Tudo o que eu disse: invenção de ter dito
tudo o que eu não disse: fabulações de ter dito
interditos.
nem fá
bulas nem,
ter ou não na mão palavras ou outras espécies de objetos portáteis.
despertou de repente quer brincar de letra com ou sem,
ei,você
não cansa não dessa fórmula barata de fazer de conta
outra
estou cansado de você,
eu também.
quando nenhuma palavra basta, esvaz hiatas você.
quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
sábado, 25 de dezembro de 2010
Vitória histórica!!!!
Sentença da Corte IDH: Brasil é obrigado a investigar e punir os crimes da ditadura militar
Rio de Janeiro, São Paulo e Washington DC, 14 de dezembro de 2010 - A Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH), em uma sentença histórica notificada hoje, determinou a responsabilidade internacional do Brasil pelo desaparecimento forçado de, pelo menos, 70 camponeses e militantes da Guerrilha do Araguaia entre os anos de 1972 a 1974, durante a ditadura militar brasileira. Conforme compromisso assumido internacionalmente, é obrigatório e vinculante o pleno cumprimento desta sentença pelo país.
Esta é a primeira sentença contra o Brasil por crimes cometidos durante a ditadura militar, que permite discutir a herança autoritária do regime ditatorial e contribui para o estabelecimento de uma cultura do “Nunca Mais” no país.
O Centro pela Justiça e o Direito Internacional (CEJIL), o Grupo Tortura Nunca Mais do Rio de Janeiro (GTNM-RJ) e a Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos de São Paulo (CFMDP-SP) atuam, desde 1995, em representação das vítimas e de seus familiares na denúncia internacional perante o sistema interamericano de proteção dos direitos humanos.
Ao longo do processo comprovaram cabalmente a responsabilidade internacional do Brasil pelo desaparecimento forçado das vítimas, pela total impunidade em relação a estes crimes e pela ausência de procedimentos eficazes para o estabelecimento da verdade no país. Assim, solicitaram diversas medidas de reparação, que abrangiam desde o conceito de reparação integral às vítimas e seus familiares, até medidas mais amplas, especialmente no que tange ao direito à verdade e à justiça, em relação à sociedade brasileira como um todo. Os fatos, as violações e as reparações mais destacadas que estabelece a sentença são as seguintes:
A Corte Interamericana determinou que as vítimas do presente caso foram desaparecidas por agentes do Estado. A sentença estabelece que o Brasil violou o direito à justiça, no que se refere à obrigação internacional de investigar,processar e sancionar os responsáveis pelos desaparecimentos forçados em virtude da interpretação prevalecente da Lei de Anistia brasileira, a qual permitiu a total impunidade deste crimes por mais de 30 anos.
A Corte determinou que esta interpretação da Lei de Anistia, reafirmada recentemente pelo Supremo Tribunal Federal, contraria o Direito Internacional. Nas palavras da Corte: “As (aquelas) disposições da Lei de Anistia brasileira que impedem a investigação e sanção de graves violações de direitos humanos são incompatíveis com a Convenção Americana, carecem de efeitos jurídicos e não podem seguir representando um obstáculo para a investigação dos fatos do presente caso (Araguaia)”.
Assim, a Corte requereu que o Estado remova todos os obstáculos práticos e jurídicos para a investigação dos crimes, esclarecimento da verdade e responsabilização dos envolvidos. Também, o Tribunal reafirmou o alcance geral de sua decisão exigindo que as disposições da Lei de Anistia, que impedem as investigações penais, não possa representar um obstáculo a respeito de outros casos de graves violações de direitos humanos.
Quanto à ausência de informação oficial a Corte avançou substancialmente os parâmetros exigidos para proteção do direito de acesso à informação, incluindo o princípio da máxima divulgação e a necessidade de justificar qualquer negativa de prestar informação. A Corte também afirmou que é essencial que o Brasil adote as medidas necessárias para adequar sua legislação sobre acesso à informação em conformidade com o estabelecido na Convenção Americana.
Finalmente, no que se refere à negativa do Estado, por mais de três décadas, de garantir o direito à verdade aos familiares dos desaparecidos, a Corte Interamericana determinou que, em virtude do sofrimento causado aos mesmos, o Estado brasileiro é responsável por sua tortura psicológica e, entre outras coisas, determinou como medidas de reparação: a obrigação de investigar os fatos; a obrigação de realizar um ato publico de reconhecimento de sua responsabilidade; o desenvolvimento de iniciativas de busca e a continuidade na localização dos restos mortais dos desaparecidos; a sistematização e; a publicação de toda a informação sobre a Guerrilha do Araguaia e as violações de direitos humanos ocorridas durante o regime militar no Brasil.
Portanto, a sentença da Corte IDH no caso Gomes Lund e outros (Guerrilha do Araguaia) é paradigmática porque permitirá a reconstrução da memória histórica para as gerações futuras, o conhecimento da verdade e, principalmente, a construção, no âmbito da justiça, de novos parâmetros e práticas democráticas.
Segundo Vitória Grabois, familiar e vice-presidente do Grupo Tortura Nunca Mais/ RJ: “A falta de informação por mais de 30 anos causou aos familiares dos guerrilheiros do Araguaia angústia, sofrimento e desconfiança nas instituições brasileiras. A sentença da Corte renova nossa esperança na justiça.”
Nas palavras de Beatriz Affonso, diretora do programa do CEJIL para o Brasil: “Esperamos que a administração de Dilma Roussef demonstre que os governos democráticos não podem fechar os olhos aos crimes do passado e que se empenhe em saldar a dívida histórica do país. Já o Poder Judiciário, que é parte do Estado brasileiro, deve cumprir a decisão promovendo a investigação dos crimes cometidos durante a ditadura. Todos os cidadãos brasileiros devem ter certeza de que hoje, na democracia, a lei está ao alcance de todos, inclusive os agentes públicos e privados, civis e militares envolvidos em nome da repressão em crimes contra os cidadãos.”
Segundo Criméia Schmidt de Almeida, familiar e Presidente da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos de São Paulo: “ Essa sentença pode significar um passo importante na verdadeira redemocratização do país, eliminando os entraves ditatoriais que ainda persistem nas práticas dos agentes públicos. Como familiar espero que possa significar um ponto final a tantas incertezas que há quase 40 anos marcam com angústia a nossa vida”
Neste sentido Viviana Krsticevic, diretora executiva do CEJIL disse: “América Latina tem avançado significativamente na resolução dos crimes contra a humanidade cometidos por governos ditatoriais. O Brasil, no entanto, ainda está em dívida com os familiares e a sociedade no estabelecimento da verdade e da justiça relacionadas a este tema. Esta sentença representa uma oportunidade única para que o Brasil demonstre que é capaz de liderar tanto no âmbito internacional como nacional os temas relacionados aos direitos humanos e democracia. Para isto, o Brasil deve deixar sem efei tos os aspectos da lei de anistia que impedem a justiça frente a crimes contra a humanidade.”
A sentença está disponível no website da Corte Interamericana:
http://www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_219_por.pdf
Para mais informações:
Centro pela Justiça e o Direito Internacional:
Beatriz Affonso +55 21 2533 1660 ou 7843-7285
Viviana Krsticevic +1 202 319 3000 ou celular: 1-202-651-0706
Millie Legrain +1 202 319 3000
Grupo Tortura Nunca Mais do Rio de Janeiro: +55 21 2286 8762 ou 21 8103-5657
Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos de São Paulo: +55 11 3101-5549
Rio de Janeiro, São Paulo e Washington DC, 14 de dezembro de 2010 - A Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH), em uma sentença histórica notificada hoje, determinou a responsabilidade internacional do Brasil pelo desaparecimento forçado de, pelo menos, 70 camponeses e militantes da Guerrilha do Araguaia entre os anos de 1972 a 1974, durante a ditadura militar brasileira. Conforme compromisso assumido internacionalmente, é obrigatório e vinculante o pleno cumprimento desta sentença pelo país.
Esta é a primeira sentença contra o Brasil por crimes cometidos durante a ditadura militar, que permite discutir a herança autoritária do regime ditatorial e contribui para o estabelecimento de uma cultura do “Nunca Mais” no país.
O Centro pela Justiça e o Direito Internacional (CEJIL), o Grupo Tortura Nunca Mais do Rio de Janeiro (GTNM-RJ) e a Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos de São Paulo (CFMDP-SP) atuam, desde 1995, em representação das vítimas e de seus familiares na denúncia internacional perante o sistema interamericano de proteção dos direitos humanos.
Ao longo do processo comprovaram cabalmente a responsabilidade internacional do Brasil pelo desaparecimento forçado das vítimas, pela total impunidade em relação a estes crimes e pela ausência de procedimentos eficazes para o estabelecimento da verdade no país. Assim, solicitaram diversas medidas de reparação, que abrangiam desde o conceito de reparação integral às vítimas e seus familiares, até medidas mais amplas, especialmente no que tange ao direito à verdade e à justiça, em relação à sociedade brasileira como um todo. Os fatos, as violações e as reparações mais destacadas que estabelece a sentença são as seguintes:
A Corte Interamericana determinou que as vítimas do presente caso foram desaparecidas por agentes do Estado. A sentença estabelece que o Brasil violou o direito à justiça, no que se refere à obrigação internacional de investigar,processar e sancionar os responsáveis pelos desaparecimentos forçados em virtude da interpretação prevalecente da Lei de Anistia brasileira, a qual permitiu a total impunidade deste crimes por mais de 30 anos.
A Corte determinou que esta interpretação da Lei de Anistia, reafirmada recentemente pelo Supremo Tribunal Federal, contraria o Direito Internacional. Nas palavras da Corte: “As (aquelas) disposições da Lei de Anistia brasileira que impedem a investigação e sanção de graves violações de direitos humanos são incompatíveis com a Convenção Americana, carecem de efeitos jurídicos e não podem seguir representando um obstáculo para a investigação dos fatos do presente caso (Araguaia)”.
Assim, a Corte requereu que o Estado remova todos os obstáculos práticos e jurídicos para a investigação dos crimes, esclarecimento da verdade e responsabilização dos envolvidos. Também, o Tribunal reafirmou o alcance geral de sua decisão exigindo que as disposições da Lei de Anistia, que impedem as investigações penais, não possa representar um obstáculo a respeito de outros casos de graves violações de direitos humanos.
Quanto à ausência de informação oficial a Corte avançou substancialmente os parâmetros exigidos para proteção do direito de acesso à informação, incluindo o princípio da máxima divulgação e a necessidade de justificar qualquer negativa de prestar informação. A Corte também afirmou que é essencial que o Brasil adote as medidas necessárias para adequar sua legislação sobre acesso à informação em conformidade com o estabelecido na Convenção Americana.
Finalmente, no que se refere à negativa do Estado, por mais de três décadas, de garantir o direito à verdade aos familiares dos desaparecidos, a Corte Interamericana determinou que, em virtude do sofrimento causado aos mesmos, o Estado brasileiro é responsável por sua tortura psicológica e, entre outras coisas, determinou como medidas de reparação: a obrigação de investigar os fatos; a obrigação de realizar um ato publico de reconhecimento de sua responsabilidade; o desenvolvimento de iniciativas de busca e a continuidade na localização dos restos mortais dos desaparecidos; a sistematização e; a publicação de toda a informação sobre a Guerrilha do Araguaia e as violações de direitos humanos ocorridas durante o regime militar no Brasil.
Portanto, a sentença da Corte IDH no caso Gomes Lund e outros (Guerrilha do Araguaia) é paradigmática porque permitirá a reconstrução da memória histórica para as gerações futuras, o conhecimento da verdade e, principalmente, a construção, no âmbito da justiça, de novos parâmetros e práticas democráticas.
Segundo Vitória Grabois, familiar e vice-presidente do Grupo Tortura Nunca Mais/ RJ: “A falta de informação por mais de 30 anos causou aos familiares dos guerrilheiros do Araguaia angústia, sofrimento e desconfiança nas instituições brasileiras. A sentença da Corte renova nossa esperança na justiça.”
Nas palavras de Beatriz Affonso, diretora do programa do CEJIL para o Brasil: “Esperamos que a administração de Dilma Roussef demonstre que os governos democráticos não podem fechar os olhos aos crimes do passado e que se empenhe em saldar a dívida histórica do país. Já o Poder Judiciário, que é parte do Estado brasileiro, deve cumprir a decisão promovendo a investigação dos crimes cometidos durante a ditadura. Todos os cidadãos brasileiros devem ter certeza de que hoje, na democracia, a lei está ao alcance de todos, inclusive os agentes públicos e privados, civis e militares envolvidos em nome da repressão em crimes contra os cidadãos.”
Segundo Criméia Schmidt de Almeida, familiar e Presidente da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos de São Paulo: “ Essa sentença pode significar um passo importante na verdadeira redemocratização do país, eliminando os entraves ditatoriais que ainda persistem nas práticas dos agentes públicos. Como familiar espero que possa significar um ponto final a tantas incertezas que há quase 40 anos marcam com angústia a nossa vida”
Neste sentido Viviana Krsticevic, diretora executiva do CEJIL disse: “América Latina tem avançado significativamente na resolução dos crimes contra a humanidade cometidos por governos ditatoriais. O Brasil, no entanto, ainda está em dívida com os familiares e a sociedade no estabelecimento da verdade e da justiça relacionadas a este tema. Esta sentença representa uma oportunidade única para que o Brasil demonstre que é capaz de liderar tanto no âmbito internacional como nacional os temas relacionados aos direitos humanos e democracia. Para isto, o Brasil deve deixar sem efei tos os aspectos da lei de anistia que impedem a justiça frente a crimes contra a humanidade.”
A sentença está disponível no website da Corte Interamericana:
http://www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_219_por.pdf
Para mais informações:
Centro pela Justiça e o Direito Internacional:
Beatriz Affonso +55 21 2533 1660 ou 7843-7285
Viviana Krsticevic +1 202 319 3000 ou celular: 1-202-651-0706
Millie Legrain +1 202 319 3000
Grupo Tortura Nunca Mais do Rio de Janeiro: +55 21 2286 8762 ou 21 8103-5657
Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos de São Paulo: +55 11 3101-5549
sábado, 11 de dezembro de 2010
sábado, 4 de dezembro de 2010
O branco das vogais é levemente lilás
Sentimento nem recusa. Não havia nada. Músculos da face, ângulo do osso, entre dois pontos e você não pode. Tocar, a mínima distância, é o zero sem chegar, na margem.
Não havia aparentemente, uma coisa nem outra, nem terceiras opiniões. Não se você pensa quem sabe ela mais tarde pensasse que houvesse alguma coisa mais que o desejo. Um desejo dentro de outro desejo, como bonequinhas russas e a eminência de um minúsculo objeto sem peso, e sem oco. A ausência de vazio é a parte inexata, você tenta esquecer pequenos objetos, algo compartilhado horas, menores que o que resta. Entre a mão retida no teclado, entre a voz deixada para a próxima saudade. Adiar, sopros, mais uma hora da manhã, novinha para esquecer de agosto.
Não, nem, agora. Para mais tarde, ou para antes de ter sido. Uma duas três vogais que continuam. O branco das vogais é levemente lilás.
Não havia aparentemente, uma coisa nem outra, nem terceiras opiniões. Não se você pensa quem sabe ela mais tarde pensasse que houvesse alguma coisa mais que o desejo. Um desejo dentro de outro desejo, como bonequinhas russas e a eminência de um minúsculo objeto sem peso, e sem oco. A ausência de vazio é a parte inexata, você tenta esquecer pequenos objetos, algo compartilhado horas, menores que o que resta. Entre a mão retida no teclado, entre a voz deixada para a próxima saudade. Adiar, sopros, mais uma hora da manhã, novinha para esquecer de agosto.
Não, nem, agora. Para mais tarde, ou para antes de ter sido. Uma duas três vogais que continuam. O branco das vogais é levemente lilás.
segunda-feira, 29 de novembro de 2010
sexta-feira, 26 de novembro de 2010
Da Alegria
Olhei pro céu agora pouco
As três marias e pertinho, a ponta da constelação de touro.
Na janela dos fundos do apartamento, onde, do miolo do prédio
o recorte (mínimo) do céu é retangular.
Certo reconfortar
as estrelas continuam lá.
Ainda posso vê-las, mesmo morando na capital
mesmo num pequeno retângulo
um pouco antes da uma hora da manhã
um silêncio.
As palavras cavadas sobre a tinta,
outras xerocadas e coladas repetidas vezes
Outras ainda,nebuladas ou esfareladas com o giz pastel seco.
Um recorforto
as palavras continuam lá
mesmo ilégiveis, mesmo apagadas ou borradas
em cores, em preto e branco.
As três marias e pertinho, a ponta da constelação de touro.
Na janela dos fundos do apartamento, onde, do miolo do prédio
o recorte (mínimo) do céu é retangular.
Certo reconfortar
as estrelas continuam lá.
Ainda posso vê-las, mesmo morando na capital
mesmo num pequeno retângulo
um pouco antes da uma hora da manhã
um silêncio.
As palavras cavadas sobre a tinta,
outras xerocadas e coladas repetidas vezes
Outras ainda,nebuladas ou esfareladas com o giz pastel seco.
Um recorforto
as palavras continuam lá
mesmo ilégiveis, mesmo apagadas ou borradas
em cores, em preto e branco.
quinta-feira, 25 de novembro de 2010
Sobre femininos, fe-mínimos
Assisti a historiadora e doutora em teoria e critica de arte, Marlen Batista de Martino falando sobre sua tese de doutorado, Narrativas do eu - confissões na arte contemporânea - o corpo como diário (2009), uns dias atrás, e fiquei muito tocada, não só pelo seu belíssimo trabalho, mas pela leitura que ela fez de um poema escrito pela artista Faith Wilding, em 1971, com o qual a artista realiza uma performance. Obra que faz parte dos trabalhos pesquisados pela Marlen. Resolvi postar o poema aqui, em inglês, original:
Waiting
A Poem by Faith Wilding
Waiting . . . waiting . . . waiting . . .
Waiting for someone to come in
Waiting for someone to hold me
Waiting for someone to feed me
Waiting for someone to change my diaper Waiting . . .
Waiting to scrawl, to walk, waiting to talk
Waiting to be cuddled
Waiting for someone to take me outside
Waiting for someone to play with me
Waiting for someone to take me outside
Waiting for someone to read to me, dress me, tie my shoes
Waiting for Mommy to brush my hair
Waiting for her to curl my hair
Waiting to wear my frilly dress
Waiting to be a pretty girl
Waiting to grow up Waiting . . .
Waiting for my breasts to develop
Waiting to wear a bra
Waiting to menstruate
Waiting to read forbidden books
Waiting to stop being clumsy
Waiting to have a good figure
Waiting for my first date
Waiting to have a boyfriend
Waiting to go to a party, to be asked to dance, to dance close
Waiting to be beautiful
Waiting for the secret
Waiting for life to begin Waiting . . .
Waiting to be somebody
Waiting to wear makeup
Waiting for my pimples to go away
Waiting to wear lipstick, to wear high heels and stockings
Waiting to get dressed up, to shave my legs
Waiting to be pretty Waiting . . .
Waiting for him to notice me, to call me
Waiting for him to ask me out
Waiting for him to pay attention to me
Waiting for him to fall in love with me
Waiting for him to kiss me, touch me, touch my breasts
Waiting for him to pass my house
Waiting for him to tell me I’m beautiful
Waiting for him to ask me to go steady
Waiting to neck, to make out, waiting to go all the way
Waiting to smoke, to drink, to stay out late
Waiting to be a woman Waiting . . .
Waiting for my great love
Waiting for the perfect man
Waiting for Mr. Right Waiting . . .
Waiting to get married
Waiting for my wedding day
Waiting for my wedding night
Waiting for sex
Waiting for him to make the first move
Waiting for him to excite me
Waiting for him to give me pleasure
Waiting for him to give me an orgasm Waiting . . .
Waiting for him to come home, to fill my time Waiting . . .
Waiting for my baby to come
Waiting for my belly to swell
Waiting for my breasts to fill with milk
Waiting to feel my baby move
Waiting for my legs to stop swelling
Waiting for the first contractions
Waiting for the contractions to end
Waiting for the head to emerge
Waiting for the first scream, the afterbirth
Waiting to hold my baby
Waiting for my baby to suck my milk
Waiting for my baby to stop crying
Waiting for my baby to sleep through the night
Waiting for my breasts to dry up
Waiting to get my figure back, for the stretch marks to go away
Waiting for some time to myself
Waiting to be beautiful again
Waiting for my child to go to school
Waiting for life to begin again Waiting . . .
Waiting for my children to come home from school
Waiting for them to grow up, to leave home
Waiting to be myself
Waiting for excitement
Waiting for him to tell me something interesting, to ask me how I feel
Waiting for him to stop being crabby, reach for my hand, kiss me good morning
Waiting for fulfillment
Waiting for the children to marry
Waiting for something to happen Waiting . . .
Waiting to lose weight
Waiting for the first gray hair
Waiting for menopause
Waiting to grow wise
Waiting . . .
Waiting for my body to break down, to get ugly
Waiting for my flesh to sag
Waiting for my breasts to shrivel up
Waiting for a visit from my children, for letters
Waiting for my friends to die
Waiting for my husband to die Waiting . . .
Waiting to get sick
Waiting for things to get better
Waiting for winter to end
Waiting for the mirror to tell me that I’m old
Waiting for a good bowel movement
Waiting for the pain to go away
Waiting for the struggle to end
Waiting for release
Waiting for morning
Waiting for the end of the day
Waiting for sleep Waiting . . .
“Waiting” was performed at Womanhouse in Los Angeles sponsored by the
Feminist Art Program, California Institute of the Arts.
Waiting
A Poem by Faith Wilding
Waiting . . . waiting . . . waiting . . .
Waiting for someone to come in
Waiting for someone to hold me
Waiting for someone to feed me
Waiting for someone to change my diaper Waiting . . .
Waiting to scrawl, to walk, waiting to talk
Waiting to be cuddled
Waiting for someone to take me outside
Waiting for someone to play with me
Waiting for someone to take me outside
Waiting for someone to read to me, dress me, tie my shoes
Waiting for Mommy to brush my hair
Waiting for her to curl my hair
Waiting to wear my frilly dress
Waiting to be a pretty girl
Waiting to grow up Waiting . . .
Waiting for my breasts to develop
Waiting to wear a bra
Waiting to menstruate
Waiting to read forbidden books
Waiting to stop being clumsy
Waiting to have a good figure
Waiting for my first date
Waiting to have a boyfriend
Waiting to go to a party, to be asked to dance, to dance close
Waiting to be beautiful
Waiting for the secret
Waiting for life to begin Waiting . . .
Waiting to be somebody
Waiting to wear makeup
Waiting for my pimples to go away
Waiting to wear lipstick, to wear high heels and stockings
Waiting to get dressed up, to shave my legs
Waiting to be pretty Waiting . . .
Waiting for him to notice me, to call me
Waiting for him to ask me out
Waiting for him to pay attention to me
Waiting for him to fall in love with me
Waiting for him to kiss me, touch me, touch my breasts
Waiting for him to pass my house
Waiting for him to tell me I’m beautiful
Waiting for him to ask me to go steady
Waiting to neck, to make out, waiting to go all the way
Waiting to smoke, to drink, to stay out late
Waiting to be a woman Waiting . . .
Waiting for my great love
Waiting for the perfect man
Waiting for Mr. Right Waiting . . .
Waiting to get married
Waiting for my wedding day
Waiting for my wedding night
Waiting for sex
Waiting for him to make the first move
Waiting for him to excite me
Waiting for him to give me pleasure
Waiting for him to give me an orgasm Waiting . . .
Waiting for him to come home, to fill my time Waiting . . .
Waiting for my baby to come
Waiting for my belly to swell
Waiting for my breasts to fill with milk
Waiting to feel my baby move
Waiting for my legs to stop swelling
Waiting for the first contractions
Waiting for the contractions to end
Waiting for the head to emerge
Waiting for the first scream, the afterbirth
Waiting to hold my baby
Waiting for my baby to suck my milk
Waiting for my baby to stop crying
Waiting for my baby to sleep through the night
Waiting for my breasts to dry up
Waiting to get my figure back, for the stretch marks to go away
Waiting for some time to myself
Waiting to be beautiful again
Waiting for my child to go to school
Waiting for life to begin again Waiting . . .
Waiting for my children to come home from school
Waiting for them to grow up, to leave home
Waiting to be myself
Waiting for excitement
Waiting for him to tell me something interesting, to ask me how I feel
Waiting for him to stop being crabby, reach for my hand, kiss me good morning
Waiting for fulfillment
Waiting for the children to marry
Waiting for something to happen Waiting . . .
Waiting to lose weight
Waiting for the first gray hair
Waiting for menopause
Waiting to grow wise
Waiting . . .
Waiting for my body to break down, to get ugly
Waiting for my flesh to sag
Waiting for my breasts to shrivel up
Waiting for a visit from my children, for letters
Waiting for my friends to die
Waiting for my husband to die Waiting . . .
Waiting to get sick
Waiting for things to get better
Waiting for winter to end
Waiting for the mirror to tell me that I’m old
Waiting for a good bowel movement
Waiting for the pain to go away
Waiting for the struggle to end
Waiting for release
Waiting for morning
Waiting for the end of the day
Waiting for sleep Waiting . . .
“Waiting” was performed at Womanhouse in Los Angeles sponsored by the
Feminist Art Program, California Institute of the Arts.
sexta-feira, 19 de novembro de 2010
Expresso do Oriente
Atravessa a meia-noite,
recorta
A brisa atmosfera da sensação.
Meia-noite,
Partindo ao meio
Pequenos rajadas rumos risos
aguar
Expresso do Oriente, pela noite
Rumar rumor do mar
A noite recorta a Lua ao meio
Duas fatias, cintila lilaz afogados voz
Expressa, vadia recorta
O meio o avesso e o sobretudo.
Atravessa a meia-noite,
recorta
A brisa atmosfera da sensação.
Meia-noite,
Partindo ao meio
Pequenos rajadas rumos risos
aguar
Expresso do Oriente, pela noite
Rumar rumor do mar
A noite recorta a Lua ao meio
Duas fatias, cintila lilaz afogados voz
Expressa, vadia recorta
O meio o avesso e o sobretudo.
segunda-feira, 15 de novembro de 2010
o que parte/o que fica ou o registro do desaparecimento
Escrevendo a pouco sobre a perda, em dois parágrafos, sem me dar conta, mesmo a frase completa imaginada, duas falhas de registro. Duas vezes os dedos suprimiram a palavra "há".
Toda fala é ato de fala, toda escrita se torna em ato de escrita. E para falar da dor da ausência os dedos esqueceram da palavra “há”.
Entre acontecimento e registro, algo se atualiza em letra, a cada frase. Dois atos-falhos identicos, seguidos. O que há é a ausência do haver;
Toda fala é ato de fala, toda escrita se torna em ato de escrita. E para falar da dor da ausência os dedos esqueceram da palavra “há”.
Entre acontecimento e registro, algo se atualiza em letra, a cada frase. Dois atos-falhos identicos, seguidos. O que há é a ausência do haver;
domingo, 14 de novembro de 2010
segunda-feira, 8 de novembro de 2010
Diário de viagem São Paulo
08.11
"No entanto
também escrevi coisas assim,
para pessoas que nem sei mais
quem são,
de uma doçura
venenosa
de tão funda"
(Ana Cristina Cesar - A teus pés)
07.11
Assisti o filme "Matei minha mãe", saindo do cinema
a frase de Ana Cristina Cesar repetindo-se em mim:
"Anjo que extermina a dor".
06.11
Frase na noite: "Como uma amiga minha diz: beijo na boca
e copo d'água não se nega a ninguém".
manhã Campinas - São Paulo
Escutei a criança chorando em desespero nos braços de sua mãe. Um menino de dois anos e meio (parecia). Clamava por socorro. Chorava em comvulsão e ânsia de querer evitar o destino que a mãe, o ônibus nos levava. Quis roubar o menino dos braços da sua mãe, que tentava abafar uma catástrofe da qual ela tomava parte. Ainda estou sucumbindo no horror desesperado da criança. Ainda ouço os seus gritos. Pedindo socorro a quem, se nos braços da mãe?
05.11
"Eu não sei qual é palavra certa."
"Mas eu estou em dúvida"
04.11
As mãos de Ana fazendo pão. Lá ela estava. Ou na esfera feita com os cabelos cortados. Lá estava ela. Com medo, mas ainda.
Você não encontra aberturas. Você as fabrica. Ana arrancou-me para fora da sua vida e eu parti. Primeiro raiva. Depois registro de algo que atravessou meu corpo e atravessa ainda a minha vida.
Onde você guarda a sua dor? Consegue senti-la agora vendo as mãos de outra artista num video. E só vê a Ana que partiu. Então chora.
Face to face
Linha delineia ângulo que curva o queixo o desenho riscado da barba sobre a pele morena.Projeto-me para caber na concha das mãos morenas. Ele escreve e não vejo mais o video. Vejo o gesto dele escrevendo com as mãos.
03.11
Lembro das minhas lembranças de um ano atrás, andando agora na mesma estrada a caminho de Campinas quando. Num mesmo início de novembro. Eu esperava, uma esperança. O desejo tremia pela janela. Hoje é lembrança da lembrança. Não dói mais.
"No entanto
também escrevi coisas assim,
para pessoas que nem sei mais
quem são,
de uma doçura
venenosa
de tão funda"
(Ana Cristina Cesar - A teus pés)
07.11
Assisti o filme "Matei minha mãe", saindo do cinema
a frase de Ana Cristina Cesar repetindo-se em mim:
"Anjo que extermina a dor".
06.11
Frase na noite: "Como uma amiga minha diz: beijo na boca
e copo d'água não se nega a ninguém".
manhã Campinas - São Paulo
Escutei a criança chorando em desespero nos braços de sua mãe. Um menino de dois anos e meio (parecia). Clamava por socorro. Chorava em comvulsão e ânsia de querer evitar o destino que a mãe, o ônibus nos levava. Quis roubar o menino dos braços da sua mãe, que tentava abafar uma catástrofe da qual ela tomava parte. Ainda estou sucumbindo no horror desesperado da criança. Ainda ouço os seus gritos. Pedindo socorro a quem, se nos braços da mãe?
05.11
"Eu não sei qual é palavra certa."
"Mas eu estou em dúvida"
04.11
As mãos de Ana fazendo pão. Lá ela estava. Ou na esfera feita com os cabelos cortados. Lá estava ela. Com medo, mas ainda.
Você não encontra aberturas. Você as fabrica. Ana arrancou-me para fora da sua vida e eu parti. Primeiro raiva. Depois registro de algo que atravessou meu corpo e atravessa ainda a minha vida.
Onde você guarda a sua dor? Consegue senti-la agora vendo as mãos de outra artista num video. E só vê a Ana que partiu. Então chora.
Face to face
Linha delineia ângulo que curva o queixo o desenho riscado da barba sobre a pele morena.Projeto-me para caber na concha das mãos morenas. Ele escreve e não vejo mais o video. Vejo o gesto dele escrevendo com as mãos.
03.11
Lembro das minhas lembranças de um ano atrás, andando agora na mesma estrada a caminho de Campinas quando. Num mesmo início de novembro. Eu esperava, uma esperança. O desejo tremia pela janela. Hoje é lembrança da lembrança. Não dói mais.
domingo, 31 de outubro de 2010
Vou ao coração de um exílio, as unhas curtas o esmalte é vermelho. O avião parte ao meio-dia, e tudo fica para trás. Depilar, a alma quem sabe? Estar em dois não-lugares ao mesmo tempo. Fabricar mais palavras sobre a mesma distância. Como-se Vírgula, embarcando em um navio no espaço ou A.C.C. O café é a referência. Abrir no mapa grãos, conversas, andar no desconhecido, tornar a vista oca. Comprei rendas delicadas, pregas, branco, azul, e escandaloso vermelho. Na unha, mínima. Vestir uma pintura não pintada, ser linha e papel, apenas no movimento dos dedos. Papel arroz, fino, desfazendo-se no ar.
sábado, 23 de outubro de 2010
A voz do fogo
Incendeiam-se palavras, uma espécie de memória, outros
Incendeia-se o ar, alguma coisa que passa à cinza,
A terra fica escura, e o ar, crepita a labareda
consumidos Livros,
cheiro das páginas e da tinta da caneta,
O nanquim.
Incendeia-se a casa, o branco, o detalhe da letra
Dedicada.
Incendeia-se o hóspede da casa incendiada.
Uma voz que se apaga.
Incendeia-se o ar, alguma coisa que passa à cinza,
A terra fica escura, e o ar, crepita a labareda
consumidos Livros,
cheiro das páginas e da tinta da caneta,
O nanquim.
Incendeia-se a casa, o branco, o detalhe da letra
Dedicada.
Incendeia-se o hóspede da casa incendiada.
Uma voz que se apaga.
sexta-feira, 22 de outubro de 2010
Das negativas
Me disseram que
eu iria cantar
No espelho: cabelos sujos.
Prendo os cabelos e fico
sem cantar.
Arrumei dois pares
de frases, repeti-os
e pensei - é isso
afinal.
Contra-senso.
A única vontade é
des-regrar é manter
tudo desordenado
A única imoralidade
É dar sentidos.
E perdi em
seguida meus dois pares de
versos desagregados
Mais radical
então, o destino
dos versos
foi não versar.
eu iria cantar
No espelho: cabelos sujos.
Prendo os cabelos e fico
sem cantar.
Arrumei dois pares
de frases, repeti-os
e pensei - é isso
afinal.
Contra-senso.
A única vontade é
des-regrar é manter
tudo desordenado
A única imoralidade
É dar sentidos.
E perdi em
seguida meus dois pares de
versos desagregados
Mais radical
então, o destino
dos versos
foi não versar.
sábado, 16 de outubro de 2010
Apoio a Semana contra anistia aos torturadores
"how many times can a man turn his head
Pretending he just doesn't see?" (Bob Dylan)
Exposição Pablo Guayasamin - 19 de março a 25 de julho de 2010 - Museu Oscar Niemeyer (MON)- Museu do Olho - Curitiba
"Semana contra a anistia aos torturadores
No primeiro semestre de 2010 ocorreu o julgamento do Supremo Tribunal Federal da arguição de defesa de preceito fundamental (ADPF 153) que questiona a validade da anistia aos torturadores. A votação do STF contra essa ação ratifica e destaca o Brasil como o único país latino americano que ainda não foi capaz de punir os atos atrozes cometidos durante o período da ditadura militar. Nesse mesmo semestre ocorreram as audiência na Corte Interamericana de Direitos Humanos sobre a Guerrilha do Araguaia - cuja sentença com relação ao caso se aproxima. Esses episódios deixaram para trás milhares de pessoas desaparecidas, mortas e torturadas e imenso sofrimento psíquico e instabilidade institucional e política no país desde então. Com o intuito de recolocar o assunto em pauta, organizaremos a "Semana contra a anistia aos torturadores", que acontecerá entre os dias 4 e 7 de outubro de 2010 e contará com a participação de destacados militantes, pesquisadores e intelectuiais diretamente envolvidos com o assunto, além da exibição de filmes seguidos de debates sobre a temática. Coordenação dos Profs. Drs. Paulo Cesar Endo (PSA) e Luis Guilherme Galeão da Silva (PST)."
(http://www.ip.usp.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=1893:semana-contra-a-anistia-aos-torturadores&catid=45:eventos&Itemid=83)
quarta-feira, 13 de outubro de 2010
sexta-feira, 8 de outubro de 2010
Frêmito. [do lat. fremitu.] S.m. 1. Rumor surdo e áspero: "os uivos dos lobos, os pios dos mochos pelas noites, o frêmito dos ventos pelos píncaros do pomar" (Antônio Feliciano de Castilhos, Amor e Melancolia, p.338) 2. Sussurro, rumor: Ouviu-se um frêmito nas arquibancadas. 3. Tremor, estremecimento, vibração. 4. Rumor produzido por esse estremecimento: o frêmito das asas. 5. Movimento agitado; ondulação, balanço: o frêmito das espigas. 6.Fig. Sensação espasmódica; comoção, com tremor de nervos: "Passe em redor de mim um frêmito de gozo/E um calor de desejo" (Vicente de Carvalho, Poemas e Canções, p.224. 7. Fig. Estremecimento de alegria, de prazer: "Um frêmito de alegria passou na luz do Paraíso, que um Santo novo enriquecia." (Eça de Queiros, Contos, p.155)
(Novo Dicionário Aurélio, Nova Fronteira, 1975, p.655)
(Novo Dicionário Aurélio, Nova Fronteira, 1975, p.655)
sexta-feira, 1 de outubro de 2010
Pise de leve na beira desta letra: cuidado ao entrar: palavras forjadas para um entretenimento breve.
Estou escrevendo para você, meu amor, que esteve aqui comigo nesta cama. Li a pouco a frase de um livro e pensei em você. Nas coisas engraçadas que você diz, com sono. A primavera chegou com chuva e um pouco de frio. Exatamente a mesma primavera de um ano atrás. Molhada, com folhas e desejos caídos, e as impossibilidades todas. Foram. Estamos agora tão perto. Estendo minhas mãos e aliso os teus cabelos. Você sempre soube que era o amor o dono de todas as palpitações? O tremor das mãos me escrevendo, ou quando seu rosto afogueou-se naquele restaurante. Você havia me mandado um poema cheio de belas palavras na véspera... Ando lendo tanto, escrevendo menos do que eu gostaria e me recuperando de um último golpe de intensidade.
Imagino que você saiba. Não imagino nada. Sei apenas de mim. Das palavras que invento para me tornar um pouco mais leve. Inventar mentiras, sentimentos. Forjar amantes e mesmo uma primavera fria.
Fico te olhando dormir. E ainda penso que você é um completo estranho para mim. Não sei nada de você. Não. Até conheço um pouco, confesso. Textura, sardas, um jeito de falar, um jeito de beijar. Pequenos sons que você emite. Conheço algumas palavras que você gosta de usar, alguns livros que você gosta de ler. Temos dois gatos que passam atirados no sofá, você implica com eles. E a cada dia vai descobrindo suas próprias qualidades felinas. Quase ronrona e passa roçando meu corpo quando é domingo de manhã e passamos o dia atirados dentro do apartamento.
Voltou a chover. Puxo a coberta sobre teus ombros. Amanhã de manhã eu mesma vou fazer as malas.
Pegamos um barco e passamos o dia fingindo que estamos num cruzeiro. O mar é azul escuro, há qualquer coisa de grave quando não dá mais pé. Pode acontecer de alguém cair e se afogar. De tardezinha paramos numa pequena praia. Gosto da areia, cato conchas, faço alongamentos, deito nela, na areia e você me faz rir de tudo. Depois fica noite. Eu reconheço sempre as mesmas estrelas. As nuvens de Magalhães, a constelação de Touro, perto das Plêiades, lá pelas 4h da manhã é a constelação de escorpião, e sua espiral na cauda. Você beija minha mão, minha nuca. Sussurra palavras impossíveis e me obriga a ser estrela, mar, chuva, tempestade. Dormimos abraçados, nus. Você e eu. Moramos lado a lado. Apenas um oceano de distância. As tartarugas marinhas são enormes, estão nadando no mar.
Imagino que você saiba. Não imagino nada. Sei apenas de mim. Das palavras que invento para me tornar um pouco mais leve. Inventar mentiras, sentimentos. Forjar amantes e mesmo uma primavera fria.
Fico te olhando dormir. E ainda penso que você é um completo estranho para mim. Não sei nada de você. Não. Até conheço um pouco, confesso. Textura, sardas, um jeito de falar, um jeito de beijar. Pequenos sons que você emite. Conheço algumas palavras que você gosta de usar, alguns livros que você gosta de ler. Temos dois gatos que passam atirados no sofá, você implica com eles. E a cada dia vai descobrindo suas próprias qualidades felinas. Quase ronrona e passa roçando meu corpo quando é domingo de manhã e passamos o dia atirados dentro do apartamento.
Voltou a chover. Puxo a coberta sobre teus ombros. Amanhã de manhã eu mesma vou fazer as malas.
Pegamos um barco e passamos o dia fingindo que estamos num cruzeiro. O mar é azul escuro, há qualquer coisa de grave quando não dá mais pé. Pode acontecer de alguém cair e se afogar. De tardezinha paramos numa pequena praia. Gosto da areia, cato conchas, faço alongamentos, deito nela, na areia e você me faz rir de tudo. Depois fica noite. Eu reconheço sempre as mesmas estrelas. As nuvens de Magalhães, a constelação de Touro, perto das Plêiades, lá pelas 4h da manhã é a constelação de escorpião, e sua espiral na cauda. Você beija minha mão, minha nuca. Sussurra palavras impossíveis e me obriga a ser estrela, mar, chuva, tempestade. Dormimos abraçados, nus. Você e eu. Moramos lado a lado. Apenas um oceano de distância. As tartarugas marinhas são enormes, estão nadando no mar.
segunda-feira, 27 de setembro de 2010
Maio encontra Setembro ou uma primavera encontra um outono
Chocolates não derretem no café
Vídeo escapando das masmorras
Era cedo para pensar no escuro
Certo abafado, o céu da boca
Por um pequeno espasmo diagonal
A língua não encontra
A pele, uma cobra, De languidez.
MurLamúriosos Muros
Não era tarde para o sol se pôr
Não era tarde para deixá-la
ir-se(r).
Uma história nervo-tenso-calciforme
Nenhuma história: flutuam flocos de chocolate no café.
Nenhum borrão no olho perspicaz?
Sentimentos frescos por viver
Mais amarrotar (como): Amar em rota de
fuga as pÁlpebras pêras caem de ver
bo Livre ela risca palavras na boca, palavras
Na boca.
(p.s: título - contaminações de Mayana Redin, em Encontros Inapreensíveis, trabalho de conclusão de curso, Artes Visuais, julho de 2010)
Vídeo escapando das masmorras
Era cedo para pensar no escuro
Certo abafado, o céu da boca
Por um pequeno espasmo diagonal
A língua não encontra
A pele, uma cobra, De languidez.
MurLamúriosos Muros
Não era tarde para o sol se pôr
Não era tarde para deixá-la
ir-se(r).
Uma história nervo-tenso-calciforme
Nenhuma história: flutuam flocos de chocolate no café.
Nenhum borrão no olho perspicaz?
Sentimentos frescos por viver
Mais amarrotar (como): Amar em rota de
fuga as pÁlpebras pêras caem de ver
bo Livre ela risca palavras na boca, palavras
Na boca.
(p.s: título - contaminações de Mayana Redin, em Encontros Inapreensíveis, trabalho de conclusão de curso, Artes Visuais, julho de 2010)
domingo, 19 de setembro de 2010
quarta-feira, 15 de setembro de 2010
domingo, 12 de setembro de 2010
O desenho fala?
A linha pensa?
Você me ama?
Abrir palavras para que
abrindo, abertura
O corpo está todo aberto
Mas onde, atravessar o corpo
Encontrar?
Se posso olhar, posso olhar?
Se não sei, absolutamente
Palavras e em
tentativa.
Tentativa.
Gosto de tatear escuro.
Ela era um futuro.
Não encontrei-a.
A linha pensa?
O desenho fala?
Você me ama?
A linha pensa?
Você me ama?
Abrir palavras para que
abrindo, abertura
O corpo está todo aberto
Mas onde, atravessar o corpo
Encontrar?
Se posso olhar, posso olhar?
Se não sei, absolutamente
Palavras e em
tentativa.
Tentativa.
Gosto de tatear escuro.
Ela era um futuro.
Não encontrei-a.
A linha pensa?
O desenho fala?
Você me ama?
domingo, 29 de agosto de 2010
Fragmento da Segunda Elegia, de Rainer Maria Rilke, de Elegias de Duíno
"Se soubessem, os Amantes diriam
estranhas coisas no ar noturno. No entanto, parece
que tudo nos oculta. Olhai, as árvores são; as casas
que habitamos resistem. Somente nós passamos,
permuta aérea, em face de tudo. E tudo conspira
para que silenciemos: o pudor, ou
quem sabe a indizível esperança.
Amantes, que vos bastais, qual nosso segredo?
Há contato entre vós. Teríeis provas?
Às vezes minhas mãos se reconhecem ou
meu rosto gasto nelas tenta se abrigar.
Isso me dá uma certa consciência de mim mesmo.
Quem, no entanto, por tão pouco ousaria ser?
Mas vós, acrescidos no êxtase um do outro
- até que exausto, um suplique: basta! - vós,
cujas mãos descobrem a riqueza dos anos de vinho
e que vos dissolveis para que o outro domine,
pergunto-vos: qual nosso segredo? Eu sei,
bem-aventurado é vosso contato, pois
as carícias sutilmente protegem, retém
a duração pura; e o amplexo, não vos promete quase
a eternidade? Quando resistis ao sobressalto
dos primeiros olhares, à ansiosa espera
à janela, ou quando ultrapassais
o primeiro passeio, juntos,
num jardim: amantes, sois vós ainda?
Quando um no outro pousais os vossos
lábios, como taças, oh, como se evade
então, estranhamente, o embriagado.
Admirastes nas estelas gregas a prudência
do gesto humano? O amor e o adeus sobre as espáduas
pousavam de leve, como se de outra matéria fossem
feitos, que nós desconhecemos. Lembrai-vos das mãos que,
sem peso se apoiavam, apesar dos corpos vigorosos. Senhores
de si mesmos, eles sabiam: aqui estamos,
em nosso palpável domínio; mais poderosamente
os deuses podem nos premir. Isso é assunto
dos deuses. - Ah, encontrássemos também nós
uma estreita faixa de terra fértil, puramente
humana, entre a torrente e a rocha!
Pois nosso coração nos ultrapassa ainda como outrora
e é impossível saciá-lo em figuras apaziguantes,
ou em corpos divinos que, imensos, o moderam."
(Rainer Maria Rilke, Elegias de Duíno, fragmentos da Segunda Elegia)
estranhas coisas no ar noturno. No entanto, parece
que tudo nos oculta. Olhai, as árvores são; as casas
que habitamos resistem. Somente nós passamos,
permuta aérea, em face de tudo. E tudo conspira
para que silenciemos: o pudor, ou
quem sabe a indizível esperança.
Amantes, que vos bastais, qual nosso segredo?
Há contato entre vós. Teríeis provas?
Às vezes minhas mãos se reconhecem ou
meu rosto gasto nelas tenta se abrigar.
Isso me dá uma certa consciência de mim mesmo.
Quem, no entanto, por tão pouco ousaria ser?
Mas vós, acrescidos no êxtase um do outro
- até que exausto, um suplique: basta! - vós,
cujas mãos descobrem a riqueza dos anos de vinho
e que vos dissolveis para que o outro domine,
pergunto-vos: qual nosso segredo? Eu sei,
bem-aventurado é vosso contato, pois
as carícias sutilmente protegem, retém
a duração pura; e o amplexo, não vos promete quase
a eternidade? Quando resistis ao sobressalto
dos primeiros olhares, à ansiosa espera
à janela, ou quando ultrapassais
o primeiro passeio, juntos,
num jardim: amantes, sois vós ainda?
Quando um no outro pousais os vossos
lábios, como taças, oh, como se evade
então, estranhamente, o embriagado.
Admirastes nas estelas gregas a prudência
do gesto humano? O amor e o adeus sobre as espáduas
pousavam de leve, como se de outra matéria fossem
feitos, que nós desconhecemos. Lembrai-vos das mãos que,
sem peso se apoiavam, apesar dos corpos vigorosos. Senhores
de si mesmos, eles sabiam: aqui estamos,
em nosso palpável domínio; mais poderosamente
os deuses podem nos premir. Isso é assunto
dos deuses. - Ah, encontrássemos também nós
uma estreita faixa de terra fértil, puramente
humana, entre a torrente e a rocha!
Pois nosso coração nos ultrapassa ainda como outrora
e é impossível saciá-lo em figuras apaziguantes,
ou em corpos divinos que, imensos, o moderam."
(Rainer Maria Rilke, Elegias de Duíno, fragmentos da Segunda Elegia)
sábado, 28 de agosto de 2010
segunda-feira, 23 de agosto de 2010
Violent
Apalpar escuro dobradiças
Mover – pontos? – subterfuros:
imperceptíveis sacudidelas de sombras
Caminhos Onde bifurcar, trifurcar, se
Andar não era nada. Era só,
escorregar um pouco pela beirada da boca.
Pressionar o corpo inteiro Vida esparramada nas horas.
Em tudo que eu,
um copo cheio
minerais sais e o coração.
Mover – pontos? – subterfuros:
imperceptíveis sacudidelas de sombras
Caminhos Onde bifurcar, trifurcar, se
Andar não era nada. Era só,
escorregar um pouco pela beirada da boca.
Pressionar o corpo inteiro Vida esparramada nas horas.
Em tudo que eu,
um copo cheio
minerais sais e o coração.
sábado, 14 de agosto de 2010
sexta-feira, 13 de agosto de 2010
quarta-feira, 4 de agosto de 2010
Anotações, fragmentos, apropriações
"vidas intermitentes
restos ou quase de coisas"
suddenly
Ausência
três segundos de chegada e três segundos de partida
opacidade
Farelos
Nossos corpos
fen dem
em a
bis mo
"Não havia nenhuma necessidade"
desfiar o fio inaudito da desfeita
Até desmanchar
Granulação
não estarei estive
turvada sobre como orvalho
"As veces, ella abre las cajas y las pone boca abajo sobre la mesa, para que las palabras se mezclen como quieren"
porisso deslembro
InconsRuir
restos ou quase de coisas"
suddenly
Ausência
três segundos de chegada e três segundos de partida
opacidade
Farelos
Nossos corpos
fen dem
em a
bis mo
"Não havia nenhuma necessidade"
desfiar o fio inaudito da desfeita
Até desmanchar
Granulação
não estarei estive
turvada sobre como orvalho
"As veces, ella abre las cajas y las pone boca abajo sobre la mesa, para que las palabras se mezclen como quieren"
porisso deslembro
InconsRuir
sexta-feira, 30 de julho de 2010
sábado, 17 de julho de 2010
Da paixão (em Clarice)
Um sopro de vida
Um sopro de vida
Um sopro de vida
Um sopro de vida
Um sopro de vida
(no coração)
Um sopro de vida
Um sopro de vida
Um sopro de vida
Um sopro de vida
(no coração)
sábado, 3 de julho de 2010
Produções março a junho 2010
quinta-feira, 1 de julho de 2010
Do sonho ou da fantasiação
Esta noite sonhei com um homem apaixonado.
ele chorava.
Beijei as suas lágrimas.
Ele tinha sido abandonado.
ele chorava.
Beijei as suas lágrimas.
Ele tinha sido abandonado.
segunda-feira, 21 de junho de 2010
Fluxo (fragmento de Fluxo-floema, Hilda Hilst, 1970)
"amo tudo o que pode ser, amo o que é, amodeio tudo o que pode e é.
(...) como explicar o vir a ser de um ser que só se sabe no AGORA, ai como explicar o DEPOIS de um ser que só se sabe no instante?"
"que merdafestança de linguagem" (pp.45-46)
(...) como explicar o vir a ser de um ser que só se sabe no AGORA, ai como explicar o DEPOIS de um ser que só se sabe no instante?"
"que merdafestança de linguagem" (pp.45-46)
quarta-feira, 16 de junho de 2010
Ontem conheci as glândulas membomian, especializadas em lubrificar os cílos, produzem uma secreção oleosa para "previnir que a lágrima evapore do olho".
São 40 glândulas para os cílios superiores e mais 40 para os inferiores.
O médico receitou antinflamátório e compressas de água quente. Para a glândula que inchou.
Dos cílios, dos olhos, estranha produção.
depois claro, lembrei de uma anotação:
'Eu sou o amor dado no escuro, acolhido por cílios que ao abrirem-se já haviam perdido a duração'
Contando para uma amiga ela reparou: você está com os cílios feridos.
Também os cílios podem se ferir.
São 40 glândulas para os cílios superiores e mais 40 para os inferiores.
O médico receitou antinflamátório e compressas de água quente. Para a glândula que inchou.
Dos cílios, dos olhos, estranha produção.
depois claro, lembrei de uma anotação:
'Eu sou o amor dado no escuro, acolhido por cílios que ao abrirem-se já haviam perdido a duração'
Contando para uma amiga ela reparou: você está com os cílios feridos.
Também os cílios podem se ferir.
sábado, 5 de junho de 2010
O limite do corpo-material
Na moldura
ela não sabe o que
virá
Na mancha
um risco coagula
o intempestivo
um sopro
Ela quer aguar os traços
Trapos do que foi amor
nesga de desaparecimentos
Sobre a linha turva do poema
poema-mancha
uma aguadura
É sempre estar
Escombro sobre
outro um sobre o
outro
Você vai aguar até o
traço evoluir do silêncio
seco
Espero secar a água para traçar silêncios
Saturar a cor de cor
Quantas camadas suporta a linha
aguada no papel fino?
Quando aguar não for mais possível
Rasgar?
Experimento teu limite papel
Tecer a pele da brancura
da tua arte só limite do que é arte
Tecer na pele a própria brancura
ela não sabe o que
virá
Na mancha
um risco coagula
o intempestivo
um sopro
Ela quer aguar os traços
Trapos do que foi amor
nesga de desaparecimentos
Sobre a linha turva do poema
poema-mancha
uma aguadura
É sempre estar
Escombro sobre
outro um sobre o
outro
Você vai aguar até o
traço evoluir do silêncio
seco
Espero secar a água para traçar silêncios
Saturar a cor de cor
Quantas camadas suporta a linha
aguada no papel fino?
Quando aguar não for mais possível
Rasgar?
Experimento teu limite papel
Tecer a pele da brancura
da tua arte só limite do que é arte
Tecer na pele a própria brancura
quinta-feira, 3 de junho de 2010
segunda-feira, 31 de maio de 2010
" I
Recolha em cada pedaço de fala
de silêncio
ou parafrasear cantos da casa,
inteira
Estar assim
ela
dormindo pano de escorrer café chá preto chimarrão
Onde também o mendigo dormirá novamente
ela
eles
os objetos dela
A palavra
toda ou qualquer
desnecessidade"
(Manoel Ricardo de Lima, em livro conjunto com artista Élida Tessler-
Falas Inacabadas- objetos e um poema- Porto Alegre-2000)
de silêncio
ou parafrasear cantos da casa,
inteira
Estar assim
ela
dormindo pano de escorrer café chá preto chimarrão
Onde também o mendigo dormirá novamente
ela
eles
os objetos dela
A palavra
toda ou qualquer
desnecessidade"
(Manoel Ricardo de Lima, em livro conjunto com artista Élida Tessler-
Falas Inacabadas- objetos e um poema- Porto Alegre-2000)
segunda-feira, 24 de maio de 2010
quarta-feira, 12 de maio de 2010
segunda-feira, 10 de maio de 2010
Campanha de Apoio ao Filme “Uma semana em Parajuru”
"Este filme denuncia as consequências dramáticas do turismo de massa, orquestrado por um grupo Austríaco, em um pequeno vilarejo de pescadores tradicionais no Nordeste do Brasil.
Hoje, este grupo Austríaco ataca José Huerta na justiça brasileira: 8 processos, sendo um deles criminal por difamação, apesar do filme não mostrar, em nenhum momento, qualquer intenção difamatória."
http://www.vagalume.fr/campanhaparajuru/Home.html
Hoje, este grupo Austríaco ataca José Huerta na justiça brasileira: 8 processos, sendo um deles criminal por difamação, apesar do filme não mostrar, em nenhum momento, qualquer intenção difamatória."
http://www.vagalume.fr/campanhaparajuru/Home.html
terça-feira, 4 de maio de 2010
Maio
Às vezes perco o pedaço de algumas coisas.
Às vezes perco pedaços de coisas.
Às vezes perco.
Às vezes.
só pedaços.
...
Não está no corpo, nos cabelos
nos pêlos, na fina camada que reveste
o lábio.
Também não está nos ossos.
Não está na voz emitida no gozo.
Não está no coração ritmado
na caixa cardíaca.
Também não está lá.
Não sei onde está.
Às vezes perco pedaços de coisas.
Às vezes perco.
Às vezes.
só pedaços.
...
Não está no corpo, nos cabelos
nos pêlos, na fina camada que reveste
o lábio.
Também não está nos ossos.
Não está na voz emitida no gozo.
Não está no coração ritmado
na caixa cardíaca.
Também não está lá.
Não sei onde está.
domingo, 2 de maio de 2010
"Coloquial e absurdo como é a vida" (Hilda Hilst)
http://www.youtube.com/watch?v=49QezUC-ccw
"Quero falar de amor
esse palavroso que só se mostra ausente [marmórea, memória?]
mãe de todos
e de um negro transparente...
mas eu nunca sei quem sou também"
Hilda Hilst
"Quero falar de amor
esse palavroso que só se mostra ausente [marmórea, memória?]
mãe de todos
e de um negro transparente...
mas eu nunca sei quem sou também"
Hilda Hilst
sexta-feira, 30 de abril de 2010
Alfabeto Enfurecido
Exposição de Léon Ferrari e Mira Schendel na Fundação Iberê Camargo, até 11 de julho.
Ambos investigam os códigos da escrita, investigam a linguagem, visual e temática.
Imperdível, estive lá hoje e para minha surpresa, a capa do livro Galaxias, do Haroldo de Campos
é um trabalho de 1972, da Mira Schendel, e está ali na fundação!
http://www.iberecamargo.org.br/content/programacao/page.asp?cat_id=68
Anotação de sensação, sobre Sem Título (Sermão do Sangue), Léon Ferrari, 1962, Série de três desenhos com linha colorida. Resultam da leitura do poema do amigo, que teria lido em voz alta (Rafael Alberti):
1º - As linhas estão úmidas (me lembra nanquim), alguns poucos em vermelho-rosa se diluem. Como representar um poema em linha? Ferrari tenta, dá aqui seu testemunho gestual-linhas da escuta de um poema do amigo exilado. Embora algo de úmido nas linhas, há também um rarefeito, areado. O ar atravessa em alguns pontos.
2º - Mais ocre. Amarelo e vermelho alaranjado "sangue seco", queria Ferrari. Aqui o traço fino se intensifica. Um vista aérea de povoados, cidades perdidas. Condensações coaguladas. Algo que busca uma ligação. Algumas linhas esticam-se à procura. A procura de quê?
3º - Apenas veias, o sangue sobre o emaranhado fino fino fino como cabelos dentro d'água finos finos finos. Canais, ou até mesmo um mapa de um país demarcando seus diferentes estados.
Há uma gravidade limpa. Gravidade silenciosa ou muda. Qualquer coisa triste.
Ambos investigam os códigos da escrita, investigam a linguagem, visual e temática.
Imperdível, estive lá hoje e para minha surpresa, a capa do livro Galaxias, do Haroldo de Campos
é um trabalho de 1972, da Mira Schendel, e está ali na fundação!
http://www.iberecamargo.org.br/content/programacao/page.asp?cat_id=68
Anotação de sensação, sobre Sem Título (Sermão do Sangue), Léon Ferrari, 1962, Série de três desenhos com linha colorida. Resultam da leitura do poema do amigo, que teria lido em voz alta (Rafael Alberti):
1º - As linhas estão úmidas (me lembra nanquim), alguns poucos em vermelho-rosa se diluem. Como representar um poema em linha? Ferrari tenta, dá aqui seu testemunho gestual-linhas da escuta de um poema do amigo exilado. Embora algo de úmido nas linhas, há também um rarefeito, areado. O ar atravessa em alguns pontos.
2º - Mais ocre. Amarelo e vermelho alaranjado "sangue seco", queria Ferrari. Aqui o traço fino se intensifica. Um vista aérea de povoados, cidades perdidas. Condensações coaguladas. Algo que busca uma ligação. Algumas linhas esticam-se à procura. A procura de quê?
3º - Apenas veias, o sangue sobre o emaranhado fino fino fino como cabelos dentro d'água finos finos finos. Canais, ou até mesmo um mapa de um país demarcando seus diferentes estados.
Há uma gravidade limpa. Gravidade silenciosa ou muda. Qualquer coisa triste.
quinta-feira, 29 de abril de 2010
terça-feira, 27 de abril de 2010
Manancial (fragmentos de fragmentos)
Lutando sobre o peso da sombra
o manancial cantava
Aproximei-me para escutar-lhe o canto,
mas meu coração não entende nada.
Era um brotar de estrelas invisíveis
sobre a erva casta,
nascimento do Verbo da terra
por um sexo sem mancha
Que alfabeto de auroras compôs
tuas escuras palavras?
Que lábios as pronunciavam?
E que dizem à estrela distante?
Senti sobre meus braços doces ninhos,
acariciar de asas (...)
Não poderão compreender minhas doces
folhas o segredo da água?
Chegarão minhas raízes aos reinos
onde nasce e se coagula?
Tive a grande tristeza vegetal,
o amor pelas asas.
Para poder lançar-me com os ventos
às estrelas brancas.
Federico García Lorca (1919)
o manancial cantava
Aproximei-me para escutar-lhe o canto,
mas meu coração não entende nada.
Era um brotar de estrelas invisíveis
sobre a erva casta,
nascimento do Verbo da terra
por um sexo sem mancha
Que alfabeto de auroras compôs
tuas escuras palavras?
Que lábios as pronunciavam?
E que dizem à estrela distante?
Senti sobre meus braços doces ninhos,
acariciar de asas (...)
Não poderão compreender minhas doces
folhas o segredo da água?
Chegarão minhas raízes aos reinos
onde nasce e se coagula?
Tive a grande tristeza vegetal,
o amor pelas asas.
Para poder lançar-me com os ventos
às estrelas brancas.
Federico García Lorca (1919)
quarta-feira, 14 de abril de 2010
terça-feira, 13 de abril de 2010
Sombras de Maya
"vê que bonita a impermanência, você pensa ao acordar e ver as sombras que vão embora quando uma fresta se fecha. Pensa que o contrário de uma sombra também é o mundo inteiro, como o contrário de uma luva.
E que o contrário de uma sombra que vai embora quando uma fresta se fecha é o mundo por milésimos de segundos."
(fragmentos de escritura de mayana redin)
E que o contrário de uma sombra que vai embora quando uma fresta se fecha é o mundo por milésimos de segundos."
(fragmentos de escritura de mayana redin)
segunda-feira, 12 de abril de 2010
sexta-feira, 9 de abril de 2010
Palavras cruas dizem não dizem
Gramática tremedeira rasura
onde não
Hesitar
o corpo começo
Em rasgos
dramas desvãos
Querer incêndio texto
,
calorfrios.
Guardar palavras
Colecionar gravidades,
tremedeira rosna
É a chuva. Na chuva chove um corpo.
Um nada um fio lançado sobre o vento
um andar a fio na lâmina do vento.
Gramática tremedeira rasura
onde não
Hesitar
o corpo começo
Em rasgos
dramas desvãos
Querer incêndio texto
,
calorfrios.
Guardar palavras
Colecionar gravidades,
tremedeira rosna
É a chuva. Na chuva chove um corpo.
Um nada um fio lançado sobre o vento
um andar a fio na lâmina do vento.
domingo, 4 de abril de 2010
"Uma história para um menino grande
A estória era como qualquer estória.
No fundo ele era ainda uma criança que a memória insistia em carregar. E poderia começar assim: Era uma vez um menino como qualquer outro menino. A mãe levava ele ao teatro nas tardes de domingos ensolaradas. Ela usava luvas brancas, daquelas até o cotovelo. Com certeza também usava chapéu, talvez um vestido leve, esvoaçante. Como a imagem que flutua nas suas lembranças. E seguia com ele pela mão. Ela era linda, como só as mães sabem ser, ele se sentia importante. Ainda hoje sente o calor daquela mão na sua. Aquele calor que só se sente na infância.
O pai queria que jogasse futebol. A mãe queria que fosse um liberal, um intelectual. Motivações de classe média. É preciso subir. É preciso ser. Talvez ter, mas não é o mais importante. Importante é ser importante. O pai comprava enciclopédias. Para ser craque é preciso ter talento. Em caso de dúvida, melhor estudar, não se anular.
A mãe. Entre panelas, pratos, panos, pó, fraldas, não mais a mulher, a mãe. A solidão. A solidão de noites não dormidas. De horas não compartilhadas. Solidão de ser único. Todos os grandes planos de um dia jogados, varridos, espanados, lavados. Luvas penduradas. Ela encosta a cabeça na janela e olha o tempo que poderia ter sido. Olha o garoto que corre, o cabelo encoracolado, um olhar doce, o sorriso que transforma e que cativa. O mesmo sorriso do pai. Lute garoto. Se você não chegar lá seremos todos derrotados. Quando foi mesmo que aconteceu? Um olhar que parou, um sorriso lindo. Um jeito de quem não quer nada. As pernas tortas. E as vontades mudaram de cor. Ele está ali, jornal na mão. A dúvida não chega a se instalar. A cena ainda aquece. Ela serve a comida no prato. É a rotina. Qual será a proporção do feijão com arroz?
Ele não sabe. Não precisa. O radinho no ouvido, volume total, o comentarista enlouquecido. A vibração. Depois a televisão. Todos os finais de semana do planeta. O futuro quer repetir o passado.
Ela já não leva ele pela mão. O lugar está vago. Muitos anos se passaram. É a decisão da indecisão. As mãos são muitas. Ela tem grandes olhos verdes. Não sei. Ou azuis. Ela descodifica. Decifra. Atordoa. Ela está fora de foco. Fora do sonho. É aquela loucura que chega de mansinho e fica até ao amanhecer. O sono não vem. É a tesão. É tudo fora de tom. "Il vaut mieux êntre aíme d'un amour fou que pas de tout" (é melhor ter um amor louco do que não ter nenhum).
Procura-se uma mão. Não mãe. É preciso enquadrar o sonho. Focar o desejo tão nebuloso. Fixar a imagem. É a busca.
Ela quer um amor tranquilo de uma cama desarrumada. De um olhar perdido na janela. Uma criança correndo no jardim. A loucura não está na ordem do dia. Melhor fugir. sair do caminho. Ah, menina, ele vai te amar sempre apesar da distância. Melhor dormir. Não sentir o calor daquela boca. Amanhã quando ele acordar, tudo será passado. Será que será bom lembrar? Melhor esquecer. Melhor seguir. Controlar. Afinal é um direito de cidadão.
Na janela um pedaço de sol chegando, mas não chega a aquecer. Tudo entra em foco. As luzes se acendem. Hora do intervalo. É hora de sair de foco. De deixar a paixão para a próxima geração. Vida breve sem até breve. Na mão outra mão. Na memória uma estória. Um amor que fica. Num repente tão juntos que se fundem, noutro irremediavelmente perdidos um do outro como um momento que passou. É a perda. E dói.
Um pedaço da gente que fica pelo caminho. Duas vidas, tempos diferentes. Talvez um tropeço de duas dimensões.
Silêncio. Ele escuta.
Só se ouvem soluços."
(Rita Maria Fricke)
texto escrito pela minha mãe, descoberto por mim ainda na infância, me revelando um rosto, dEla. Texto que me fez uma marca, talvez a da escrita, num feminino.
No fundo ele era ainda uma criança que a memória insistia em carregar. E poderia começar assim: Era uma vez um menino como qualquer outro menino. A mãe levava ele ao teatro nas tardes de domingos ensolaradas. Ela usava luvas brancas, daquelas até o cotovelo. Com certeza também usava chapéu, talvez um vestido leve, esvoaçante. Como a imagem que flutua nas suas lembranças. E seguia com ele pela mão. Ela era linda, como só as mães sabem ser, ele se sentia importante. Ainda hoje sente o calor daquela mão na sua. Aquele calor que só se sente na infância.
O pai queria que jogasse futebol. A mãe queria que fosse um liberal, um intelectual. Motivações de classe média. É preciso subir. É preciso ser. Talvez ter, mas não é o mais importante. Importante é ser importante. O pai comprava enciclopédias. Para ser craque é preciso ter talento. Em caso de dúvida, melhor estudar, não se anular.
A mãe. Entre panelas, pratos, panos, pó, fraldas, não mais a mulher, a mãe. A solidão. A solidão de noites não dormidas. De horas não compartilhadas. Solidão de ser único. Todos os grandes planos de um dia jogados, varridos, espanados, lavados. Luvas penduradas. Ela encosta a cabeça na janela e olha o tempo que poderia ter sido. Olha o garoto que corre, o cabelo encoracolado, um olhar doce, o sorriso que transforma e que cativa. O mesmo sorriso do pai. Lute garoto. Se você não chegar lá seremos todos derrotados. Quando foi mesmo que aconteceu? Um olhar que parou, um sorriso lindo. Um jeito de quem não quer nada. As pernas tortas. E as vontades mudaram de cor. Ele está ali, jornal na mão. A dúvida não chega a se instalar. A cena ainda aquece. Ela serve a comida no prato. É a rotina. Qual será a proporção do feijão com arroz?
Ele não sabe. Não precisa. O radinho no ouvido, volume total, o comentarista enlouquecido. A vibração. Depois a televisão. Todos os finais de semana do planeta. O futuro quer repetir o passado.
Ela já não leva ele pela mão. O lugar está vago. Muitos anos se passaram. É a decisão da indecisão. As mãos são muitas. Ela tem grandes olhos verdes. Não sei. Ou azuis. Ela descodifica. Decifra. Atordoa. Ela está fora de foco. Fora do sonho. É aquela loucura que chega de mansinho e fica até ao amanhecer. O sono não vem. É a tesão. É tudo fora de tom. "Il vaut mieux êntre aíme d'un amour fou que pas de tout" (é melhor ter um amor louco do que não ter nenhum).
Procura-se uma mão. Não mãe. É preciso enquadrar o sonho. Focar o desejo tão nebuloso. Fixar a imagem. É a busca.
Ela quer um amor tranquilo de uma cama desarrumada. De um olhar perdido na janela. Uma criança correndo no jardim. A loucura não está na ordem do dia. Melhor fugir. sair do caminho. Ah, menina, ele vai te amar sempre apesar da distância. Melhor dormir. Não sentir o calor daquela boca. Amanhã quando ele acordar, tudo será passado. Será que será bom lembrar? Melhor esquecer. Melhor seguir. Controlar. Afinal é um direito de cidadão.
Na janela um pedaço de sol chegando, mas não chega a aquecer. Tudo entra em foco. As luzes se acendem. Hora do intervalo. É hora de sair de foco. De deixar a paixão para a próxima geração. Vida breve sem até breve. Na mão outra mão. Na memória uma estória. Um amor que fica. Num repente tão juntos que se fundem, noutro irremediavelmente perdidos um do outro como um momento que passou. É a perda. E dói.
Um pedaço da gente que fica pelo caminho. Duas vidas, tempos diferentes. Talvez um tropeço de duas dimensões.
Silêncio. Ele escuta.
Só se ouvem soluços."
(Rita Maria Fricke)
texto escrito pela minha mãe, descoberto por mim ainda na infância, me revelando um rosto, dEla. Texto que me fez uma marca, talvez a da escrita, num feminino.
terça-feira, 30 de março de 2010
Sobre a espera
Ela guardou consigo, por vinte anos um caderno minúsculo, com as páginas em branco.
Escreveu nele hoje o mapa da viagem para seu interior.
Outra guarda três cadernos fechados, com páginas em branco que esperam um tempo incerto.
Fiquei num estado de perplexidade. Ter nas mãos um objeto tão precioso
que esperou vinte anos para ser escrito.
Também queria ter um caderno que pudesse esperar por palavras guardadas.
Palavras que esperam. O incerto. O tempo incerto. Da espera.
(material de vida compartilhado na aula de Acompanhamento de Processo Artístico, ministrado pela Artista Plástica Ana Flávia, na ong ARENA)
Escreveu nele hoje o mapa da viagem para seu interior.
Outra guarda três cadernos fechados, com páginas em branco que esperam um tempo incerto.
Fiquei num estado de perplexidade. Ter nas mãos um objeto tão precioso
que esperou vinte anos para ser escrito.
Também queria ter um caderno que pudesse esperar por palavras guardadas.
Palavras que esperam. O incerto. O tempo incerto. Da espera.
(material de vida compartilhado na aula de Acompanhamento de Processo Artístico, ministrado pela Artista Plástica Ana Flávia, na ong ARENA)
sexta-feira, 26 de março de 2010
trailler Pan-cinema permanente
http://www.youtube.com/watch?v=_Lc1z2g66As
e também
http://walysalomao.com.br/
e também
http://walysalomao.com.br/
Sob efeito de leitura de Waly Salomão (Tarifa de embarque)
Gota em gota
palavra por palavra
a língua na boca
estala
boca gota língua lambe a palavra.
e,
uma fala do Waly, no filme-documentário Pan-cinema permanente (2007)
"Chega de papo furado de que o sonho acabou
A VIDA É SONHO
A VIDA É SONHO
A VIDA É SONHO"
palavra por palavra
a língua na boca
estala
boca gota língua lambe a palavra.
e,
uma fala do Waly, no filme-documentário Pan-cinema permanente (2007)
"Chega de papo furado de que o sonho acabou
A VIDA É SONHO
A VIDA É SONHO
A VIDA É SONHO"
quinta-feira, 25 de março de 2010
Sobre a paisagem do outono no quinto dia depois de um começo.
Realizam-se na paisagem outras quedas e outros nascimentos.
Notas de trabalho: só poderia escrever sobre a Hilda Hilst sobre um signo de intensidade.
Ouço passar o vento, as folhas se arrastando no parque na tarde em que nascia o outono, mesmo que elas não tivessem lido o jornal. Elas sabiam que era hora de cair e rolar ao chão, no vento.
Notas de trabalho: só poderia escrever sobre a Hilda Hilst sobre um signo de intensidade.
Ouço passar o vento, as folhas se arrastando no parque na tarde em que nascia o outono, mesmo que elas não tivessem lido o jornal. Elas sabiam que era hora de cair e rolar ao chão, no vento.
terça-feira, 23 de março de 2010
segunda-feira, 22 de março de 2010
O terceiro dia de outono
Entre o avesso e o direito, uma metade sem par e sua fundura oca.
Era algo tão imperceptível que ninguém notou.
Não há mais nada lá.
Um.
Ops. Desejo de alguma coisa sem-nome.
Quem? esse sem-nome.
Me leva?
Aonde quero ir?
lugar onde...
Persigo faminto e sem nunca.
É para isso que estou?
(onde, onde estás?)
na ausência a única possibilidade de presença.
A minha? Onde não estou?
Aqui, a todo instante não estando mais
em mim.
Era algo tão imperceptível que ninguém notou.
Não há mais nada lá.
Um.
Ops. Desejo de alguma coisa sem-nome.
Quem? esse sem-nome.
Me leva?
Aonde quero ir?
lugar onde...
Persigo faminto e sem nunca.
É para isso que estou?
(onde, onde estás?)
na ausência a única possibilidade de presença.
A minha? Onde não estou?
Aqui, a todo instante não estando mais
em mim.
sexta-feira, 19 de março de 2010
Crítica do filme A Fita Branca
Encontrei uma crítica importante sobre o filme A Fita Branca:
onde explica que o filme de certa forma
"tenta explicar a origem histórica do nazismo e do holocausto."
e critica principalmente a tentativa de tratar o nazismo como um problema exclusivamente germânico, procurando as causas psicológicas:
"Nesse sentido, tratar do holocausto como uma questão de patologia psicológica e marcadamente alemã seria ignorar a incômoda verdade de que o holocausto é o símbolo do fracasso da modernidade. O holocausto é uma questão planetária e germanizá-lo pode ser uma cegueira perigosa. Bauman conclui acertadamente que os defensores da germanização do holocausto acreditam que uma vez estabelecida a responsabilidade moral e material da Alemanha, dos alemães e dos nazistas, a procura das causas está concluída. Em outras palavras, suas causas foram confinadas num espaço e num tempo limitados, para nossa sorte, o passado. Não raro, o nazismo foi durante um bom tempo classificado como uma “doença alemã”, um “desvio da civilização”, um “momento de cegueira”, quando, na verdade, trata-se de uma questão ligada a gênese do mundo moderno. O holocausto aconteceu na Alemanha dos anos quarenta, mas poderia ocorrer na França dos anos trinta. Poderia acontecer hoje, muito mais próximos do que podemos supor. E é isso o que apavora: não vivemos um mundo diferente daquele que produziu o holocausto. Para Bauman, a tese de Haneke não resulta apenas no conforto moral da auto-absolvição, mas também em um tempo de desarmamento moral e político. “Tudo aconteceu ‘lá’ – em outra época, em outro país Quanto mais culpáveis forem ‘eles’, mais seguros estaremos ‘nós’, e menos teremos que fazer para defender essa segurança. Uma vez que a atribuição de culpa for considerada equivalente à identificação das causas, a inocência e sanidade do modo de vida que tanto nos orgulhamos não precisam ser colocadas em dúvidas” (fragmento)
http://cafehistoria.ning.com/profiles/blogs/critica-do-filme-a-fita-branca
onde explica que o filme de certa forma
"tenta explicar a origem histórica do nazismo e do holocausto."
e critica principalmente a tentativa de tratar o nazismo como um problema exclusivamente germânico, procurando as causas psicológicas:
"Nesse sentido, tratar do holocausto como uma questão de patologia psicológica e marcadamente alemã seria ignorar a incômoda verdade de que o holocausto é o símbolo do fracasso da modernidade. O holocausto é uma questão planetária e germanizá-lo pode ser uma cegueira perigosa. Bauman conclui acertadamente que os defensores da germanização do holocausto acreditam que uma vez estabelecida a responsabilidade moral e material da Alemanha, dos alemães e dos nazistas, a procura das causas está concluída. Em outras palavras, suas causas foram confinadas num espaço e num tempo limitados, para nossa sorte, o passado. Não raro, o nazismo foi durante um bom tempo classificado como uma “doença alemã”, um “desvio da civilização”, um “momento de cegueira”, quando, na verdade, trata-se de uma questão ligada a gênese do mundo moderno. O holocausto aconteceu na Alemanha dos anos quarenta, mas poderia ocorrer na França dos anos trinta. Poderia acontecer hoje, muito mais próximos do que podemos supor. E é isso o que apavora: não vivemos um mundo diferente daquele que produziu o holocausto. Para Bauman, a tese de Haneke não resulta apenas no conforto moral da auto-absolvição, mas também em um tempo de desarmamento moral e político. “Tudo aconteceu ‘lá’ – em outra época, em outro país Quanto mais culpáveis forem ‘eles’, mais seguros estaremos ‘nós’, e menos teremos que fazer para defender essa segurança. Uma vez que a atribuição de culpa for considerada equivalente à identificação das causas, a inocência e sanidade do modo de vida que tanto nos orgulhamos não precisam ser colocadas em dúvidas” (fragmento)
http://cafehistoria.ning.com/profiles/blogs/critica-do-filme-a-fita-branca
A Fita Branca
Indigesto, perturbador, confuso.
Preto e branco com a fotografia impecável.
O amigo insiste que lembra Bergman. É um insulto.
Bergman aborda uma das temáticas deste filme em Fanny e Alexander em 1982, com Arte.Também em Gritos e Sussurros, em 1972.
A Fita Branca aborda inúmeras questões, talvez tenha resolvido falar de todas de uma vez só, sem decidir muito bem como resolvê-las.
Mal-estar, náusea. Talvez seja o único mérito do filme. A insistente náusea e a perturbação vertiginosa
da quebra da possibilidade de dar continuidade a um sentido, ou mesmo do não-sentido. Fica tudo despropositado. Põe em cena a crueldade, sem explorar até o fim e deixa o vazio. O vazio. O vazio. Em preto e branco. Com uma fotografia impecável que também perde todo e qualquer propósito.
Preto e branco com a fotografia impecável.
O amigo insiste que lembra Bergman. É um insulto.
Bergman aborda uma das temáticas deste filme em Fanny e Alexander em 1982, com Arte.Também em Gritos e Sussurros, em 1972.
A Fita Branca aborda inúmeras questões, talvez tenha resolvido falar de todas de uma vez só, sem decidir muito bem como resolvê-las.
Mal-estar, náusea. Talvez seja o único mérito do filme. A insistente náusea e a perturbação vertiginosa
da quebra da possibilidade de dar continuidade a um sentido, ou mesmo do não-sentido. Fica tudo despropositado. Põe em cena a crueldade, sem explorar até o fim e deixa o vazio. O vazio. O vazio. Em preto e branco. Com uma fotografia impecável que também perde todo e qualquer propósito.
A invenção do cotidiano
(Correio do Povo, hoje:)
O outono começa amanhã, às 14h32min.
Cinema
Recomendado: A Fita Branca (sala Paulo Amorin 16h40)
Recomendo: Os amantes do Círculo Polar (sala Redenção do Campus Central da Ufrgs 19h, gratuito)
O outono começa amanhã, às 14h32min.
Cinema
Recomendado: A Fita Branca (sala Paulo Amorin 16h40)
Recomendo: Os amantes do Círculo Polar (sala Redenção do Campus Central da Ufrgs 19h, gratuito)
segunda-feira, 15 de março de 2010
sábado, 13 de março de 2010
Ele é solitário. Tem tanto medo ainda desse mundo
inventado. Destes papéis que têm tanto poder. E dessa
nossa vida tão pequena e tão frágil.
Ele diz aos poucos com sua voz do outro lado do telefone,
uma voz calma de quem está aguardando.
Ele aguarda. Ele aguenta. Ele espera.
E ri um pouco.
Nunca vi tanta força na fragilidade. Seu único
poder é este:sustentar o quebradiço estado em
que permanecemos.
Eu acredito em tudo. Cada palavra.
Conheço o seu segredo.
Agora a sua solidão é também a minha.
Tudo o que temos é o que nós não sabemos.
inventado. Destes papéis que têm tanto poder. E dessa
nossa vida tão pequena e tão frágil.
Ele diz aos poucos com sua voz do outro lado do telefone,
uma voz calma de quem está aguardando.
Ele aguarda. Ele aguenta. Ele espera.
E ri um pouco.
Nunca vi tanta força na fragilidade. Seu único
poder é este:sustentar o quebradiço estado em
que permanecemos.
Eu acredito em tudo. Cada palavra.
Conheço o seu segredo.
Agora a sua solidão é também a minha.
Tudo o que temos é o que nós não sabemos.
quinta-feira, 11 de março de 2010
Para Ana
Tão pequena, ela
cores e sobre-peças escreve cartas como se fosse Clarice
e esta lá, sempre lá, ali,
na minha vida, tão pequena,
marcando o tempo,
me dá de presente um passeio inesperado,
no meu aniversário escreveu-me um
ideário, das palavras que nunca completo porque sempre falta ar.
e diz que sou "assim de vermelha e excesso, quase ruiva vazando".
Ana pequena, só você para nomear o meu desejo mais secreto:
se pudesse escolher seria a menina ruiva do conto de clarice.
Tão discreta, Ana, petit-poá,
um poema japonês colado na calçada da sorveteria Joia,
uma recusa, uma casa onde se pode dormir e acordar
E te digo agora: porque te amo.
cores e sobre-peças escreve cartas como se fosse Clarice
e esta lá, sempre lá, ali,
na minha vida, tão pequena,
marcando o tempo,
me dá de presente um passeio inesperado,
no meu aniversário escreveu-me um
ideário, das palavras que nunca completo porque sempre falta ar.
e diz que sou "assim de vermelha e excesso, quase ruiva vazando".
Ana pequena, só você para nomear o meu desejo mais secreto:
se pudesse escolher seria a menina ruiva do conto de clarice.
Tão discreta, Ana, petit-poá,
um poema japonês colado na calçada da sorveteria Joia,
uma recusa, uma casa onde se pode dormir e acordar
E te digo agora: porque te amo.
segunda-feira, 8 de março de 2010
Para Ela, a menina de olhos-poças-d'água
Ela chora em desespero, a sós, no escuro. Escuto. Quando ele não escuta nada.
Ela chora para amparar o que levou ao corpo, tombar na pele,
um certo nunca, todomedo, tudo. Em silêncio.
Ela chora para amparar o que levou ao corpo, tombar na pele,
um certo nunca, todomedo, tudo. Em silêncio.
domingo, 7 de março de 2010
Literafuro ou Da teciescrituração
“Eu te respiro-me” (p.34)
É só o silêncio o silêncio, o silêncio, o silêncio, o silêncio.
diz ainda: “a mais bela música é o silêncio interestelar. Desculpe, mas não posso ficar sozinha contigo senão nasce uma estrela no ar.” (p.66)
(Clarice Lispector - Um sopro de vida)
É só o silêncio o silêncio, o silêncio, o silêncio, o silêncio.
diz ainda: “a mais bela música é o silêncio interestelar. Desculpe, mas não posso ficar sozinha contigo senão nasce uma estrela no ar.” (p.66)
(Clarice Lispector - Um sopro de vida)
sexta-feira, 5 de março de 2010
Con siderare
Tarefa cumprida: sossegados, os ímpetos de fogo, de queimar tudo, até o último espaço livre. Era um novo habitar, novo caminho que hoje começava. Sabia que tinha os olhos nas estrelas avermelhadas do céu. Aquelas partidas há muito tempo, e que delas só restava o brilho lento da luz que demorava tanto, pois de tão longe vinha, que chegando aos nossos olhos, o que se vê é a memória de uma estrela. Vemos sua morte já apagada do outro lado daquela luz. Então, com a morte brilhando em vermelho-alaranjado amava também o que não tinha forma alguma na distância, o desconhecido absoluto do futuro, onde apenas lampejos de desejos tão vagarosos se formando com os restos do mundo.
Hoje, um ponto vácuo latindo no universo, poeira estelar vagando em não-matérias anônimas, que hão de vir. Espero.
Hoje, um ponto vácuo latindo no universo, poeira estelar vagando em não-matérias anônimas, que hão de vir. Espero.
Mini conto
Ele pára nu na frente do espelho e não imagina a
imensidão que o separa dela.
Vê seus olhos, seu sorriso, quer estar mais
próximo. Ele está nu e cansado.
Na cadeira onde está sentado, enquanto acontece
uma oficina de escrita,
duvida de si mesmo, sobre seus anseios literários,
perde a referência do próprio
desejo e fica angustiado, repentinamente. Como se nada
naquele instante se
pudesse alcançar. Nem as palavras que ele próprio
espera dele, nem a mulher distante
que já não encontra há algum tempo.
Os temas da oficina o agradam, o fracasso,
a espera sem objeto de espera, e
a escritura, como a única matéria pulsante,
em vidas quase desesperadas?
Mas a escrita também pode ser outra coisa?
Talvez se ela não estivesse tão
distante assim? Se talvez ela lhe dissesse
que sentia saudades do tempo
em que estiveram juntos? Que ele não estava
nu e sozinho, patético a
mirar um espelho. Mas ao contrário,
estava sentado ao lado dela na oficina de
escrita no meio de uma tarde de vento,
e que quando pudessem sair a rua,
veria seus cabelos esvoaçantes?
Ele não sabe.
Escreve pequenos textos como este:
O peso
sobre a pétala
no pousar de uma borboleta
(hoje) fere meus lábios de você.
Ela sorri para ele.
Qual será a verdadeira distância entre
um homem nu, sozinho, e sua vontade?
...
Exercício realizado na Oficina de Escritura Vita Nova
VIDARBO, em setembro de 2009 e postado no blog:
http://oficinasdeescritura.blogspot.com
imensidão que o separa dela.
Vê seus olhos, seu sorriso, quer estar mais
próximo. Ele está nu e cansado.
Na cadeira onde está sentado, enquanto acontece
uma oficina de escrita,
duvida de si mesmo, sobre seus anseios literários,
perde a referência do próprio
desejo e fica angustiado, repentinamente. Como se nada
naquele instante se
pudesse alcançar. Nem as palavras que ele próprio
espera dele, nem a mulher distante
que já não encontra há algum tempo.
Os temas da oficina o agradam, o fracasso,
a espera sem objeto de espera, e
a escritura, como a única matéria pulsante,
em vidas quase desesperadas?
Mas a escrita também pode ser outra coisa?
Talvez se ela não estivesse tão
distante assim? Se talvez ela lhe dissesse
que sentia saudades do tempo
em que estiveram juntos? Que ele não estava
nu e sozinho, patético a
mirar um espelho. Mas ao contrário,
estava sentado ao lado dela na oficina de
escrita no meio de uma tarde de vento,
e que quando pudessem sair a rua,
veria seus cabelos esvoaçantes?
Ele não sabe.
Escreve pequenos textos como este:
O peso
sobre a pétala
no pousar de uma borboleta
(hoje) fere meus lábios de você.
Ela sorri para ele.
Qual será a verdadeira distância entre
um homem nu, sozinho, e sua vontade?
...
Exercício realizado na Oficina de Escritura Vita Nova
VIDARBO, em setembro de 2009 e postado no blog:
http://oficinasdeescritura.blogspot.com
quinta-feira, 4 de março de 2010
AMOR E MORTE
DUPLO
PAR IRMANADO
AMOR E MORTE
AMOR E MORTE
AMOR E MORTE
O QUE VOCÊ QUER DE MIM?
AMOR E MORTE?
O QUE VOCÊ QUER
AMOR E MORTE?
UM DESFILADEIRO
UM FIAPO DE SANGUE
CORRENDO INTERMITENTE
NO CANTO ESQUERDO DE MIM
O QUE DESEJA
AMOR E MORTE?
O QUE DESEJA?
INVENTAR UMA PELE LUMINOSA
MACIA E TRANQUILA
UMA PELE DE VONTADES
QUE SE TEÇA LENTAMENTE
COMO QUEM DORME UM SONO
INFINITO...
ESTA É A IMAGEM
DE UM MORRER.
E AO MESMO TEMPO
A IMAGEM DE UM ACONCHEGO
AMOR E MORTE
ERA ESSE O DESEJO,
NÃO VIA?
ESSE É O NOME SECRETO DO DESEJO:
AMOR E MORTE
AMOR E MORTE
AMOR E MORTE
PAR IRMANADO
AMOR E MORTE
AMOR E MORTE
AMOR E MORTE
O QUE VOCÊ QUER DE MIM?
AMOR E MORTE?
O QUE VOCÊ QUER
AMOR E MORTE?
UM DESFILADEIRO
UM FIAPO DE SANGUE
CORRENDO INTERMITENTE
NO CANTO ESQUERDO DE MIM
O QUE DESEJA
AMOR E MORTE?
O QUE DESEJA?
INVENTAR UMA PELE LUMINOSA
MACIA E TRANQUILA
UMA PELE DE VONTADES
QUE SE TEÇA LENTAMENTE
COMO QUEM DORME UM SONO
INFINITO...
ESTA É A IMAGEM
DE UM MORRER.
E AO MESMO TEMPO
A IMAGEM DE UM ACONCHEGO
AMOR E MORTE
ERA ESSE O DESEJO,
NÃO VIA?
ESSE É O NOME SECRETO DO DESEJO:
AMOR E MORTE
AMOR E MORTE
AMOR E MORTE
terça-feira, 2 de março de 2010
Quando
Quando amanhecer e eu tiver
Uma medida justa apenas de palavras cantadas
Recebendo azul e depois o verde, e depois o branco.
Azul celeste abrindo o que não chega.
Verde para ficar ao chão, rente ao musgo.
Depois o branco.
O branco inundando de presença a tua ausência,
E ali se aconchegar, na concha das mãos que não vieram.
Pois que das demoras e das esperas,
Vão acontecendo os fios que fiam silêncio e
Desapareces de mim, meu estrangeiro, amor que ardi no futuro,
Sempre mais um futuro por dizer.
Uma medida justa apenas de palavras cantadas
Recebendo azul e depois o verde, e depois o branco.
Azul celeste abrindo o que não chega.
Verde para ficar ao chão, rente ao musgo.
Depois o branco.
O branco inundando de presença a tua ausência,
E ali se aconchegar, na concha das mãos que não vieram.
Pois que das demoras e das esperas,
Vão acontecendo os fios que fiam silêncio e
Desapareces de mim, meu estrangeiro, amor que ardi no futuro,
Sempre mais um futuro por dizer.
segunda-feira, 1 de março de 2010
Diálogos
Isabela, minha filha, na época com 3 anos, acorda uma manhã, brinca um pouco em silêncio, depois me dirige o olhar e pergunta:
- mamãe, onde fica o mar perfeito de areia rosa?
- o que você disse, repete que a mamãe não entendeu (para ganhar tempo).
ela repete.
- Er... acho que fica... no país das fadas (!)
- Ah sim!!! Lá onde mora a Uniqua?
- Sim, lá mesmo.
...
Hoje, no banho, Isa com quase 4, começa a contar sobre o beijo do peixe e da borboleta. Eu pergunto:
-mas Isa, como pode um peixe que vive lá embaixo da água, beijar uma borboleta que vive voando pelo ar? Ela responde:
- É que eles se beijam pelos olhos.
- mamãe, onde fica o mar perfeito de areia rosa?
- o que você disse, repete que a mamãe não entendeu (para ganhar tempo).
ela repete.
- Er... acho que fica... no país das fadas (!)
- Ah sim!!! Lá onde mora a Uniqua?
- Sim, lá mesmo.
...
Hoje, no banho, Isa com quase 4, começa a contar sobre o beijo do peixe e da borboleta. Eu pergunto:
-mas Isa, como pode um peixe que vive lá embaixo da água, beijar uma borboleta que vive voando pelo ar? Ela responde:
- É que eles se beijam pelos olhos.
quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010
Lumin tila corpórea
Passou um corpo, meteoro.
Sim. Cintila.
Lunar admite.
Passou espera meteoro
um corpo
Estrelaestá
Lumin tila corpórea
desenhosono desperta:
desmesura dos olhos
passando.
Sim. Cintila.
Lunar admite.
Passou espera meteoro
um corpo
Estrelaestá
Lumin tila corpórea
desenhosono desperta:
desmesura dos olhos
passando.
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010
Espaçamentos, metro cúbico, medida de ar.
A palavra-borda
letras
escrevem Ar, fio, ínfimo-finito,
fino-fio
pio-fio
pífio
ar.
letras
escrevem Ar, fio, ínfimo-finito,
fino-fio
pio-fio
pífio
ar.
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010
Começo XIV - um último começo: o recomeço?
Todas as palavras já ditas aqui. Ainda dizem? Aqui?
E o sol que pousou de leve no teu ombro naquela manhã, sem rumo?
E aquela tarde quando você caminhou na direção oposta à minha e foi a última vez que nos olhamos sem poder dizer nenhuma palavra?
E todos os dias que se seguem sem que pudéssemos recolher um pedaço de qualquer coisa para se ter junto, na hora em que se percebe de volta ao caminhar.
Não há nenhum passo ali, que pudesse retornar ao passo anterior. E nenhum passo futuro, que não carregue esses pedaços de acontecimentos.
É uma ordenação fragmentária de começos, onde começo, e recomeço a cada instante
E vem a necessidade de dizer uma vez mais, uma vez ainda, de uma passagem que talvez não acabe nunca de passar.
Entre o eu e o Outro, a distancia que nos possibilita respirar o silêncio de uma presença que nos ultrapassa. E será para sempre, agora, antes e também depois que já tiver passado a necessidade de dizer.
Espécie de retorno ao estrangeiro que há em mim e no outro. Nunca nos encontraremos?
É um esforço de falar e escutar?
O que oferece a palavra, que é sempre necessário retornar a ela?
Será a palavra o receptáculo de uma queda, que permanece, caindo para sempre?
E o sol que pousou de leve no teu ombro naquela manhã, sem rumo?
E aquela tarde quando você caminhou na direção oposta à minha e foi a última vez que nos olhamos sem poder dizer nenhuma palavra?
E todos os dias que se seguem sem que pudéssemos recolher um pedaço de qualquer coisa para se ter junto, na hora em que se percebe de volta ao caminhar.
Não há nenhum passo ali, que pudesse retornar ao passo anterior. E nenhum passo futuro, que não carregue esses pedaços de acontecimentos.
É uma ordenação fragmentária de começos, onde começo, e recomeço a cada instante
E vem a necessidade de dizer uma vez mais, uma vez ainda, de uma passagem que talvez não acabe nunca de passar.
Entre o eu e o Outro, a distancia que nos possibilita respirar o silêncio de uma presença que nos ultrapassa. E será para sempre, agora, antes e também depois que já tiver passado a necessidade de dizer.
Espécie de retorno ao estrangeiro que há em mim e no outro. Nunca nos encontraremos?
É um esforço de falar e escutar?
O que oferece a palavra, que é sempre necessário retornar a ela?
Será a palavra o receptáculo de uma queda, que permanece, caindo para sempre?
segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010
Dois poemas de 2008
Queria revelar
O sem-nome das
horas
E guardar num sopro
a escuridão e a claridade
da mesma palavra
Queria encontrar um
lugar, mas não sei como ele é
O lugar da distância vai se
guardando
A palavra da Vida
a palavra
E a vida?
E a vida?
E a vida?
30.11.2008 3h a.m.
Num sistema
fechado de
arcabouços
Numa nuvem velha de tristeza
Em dois olhos abertos a
fitar a noite, num
tempo de capital em que
não se vê as estrelas
Perco a conectividade
com o rumor da
madrugada
Acho o cansaço
do dia sem
viver o sono.
30.11.2008 3h a.m
O sem-nome das
horas
E guardar num sopro
a escuridão e a claridade
da mesma palavra
Queria encontrar um
lugar, mas não sei como ele é
O lugar da distância vai se
guardando
A palavra da Vida
a palavra
E a vida?
E a vida?
E a vida?
30.11.2008 3h a.m.
Num sistema
fechado de
arcabouços
Numa nuvem velha de tristeza
Em dois olhos abertos a
fitar a noite, num
tempo de capital em que
não se vê as estrelas
Perco a conectividade
com o rumor da
madrugada
Acho o cansaço
do dia sem
viver o sono.
30.11.2008 3h a.m
domingo, 14 de fevereiro de 2010
sábado, 13 de fevereiro de 2010
Foi para encontrar a chuva.
O que dizer dos reflexos não traduzidos pela água?
Fui ao quarto ler o livro de literatura, e perto da página
quarenta caiu de dentro dele um bilhete.
Apanhando um caderno de anotações em seguida, caiu de dentro
dele um outro bilhete “daqueles que não são entregues”.
Achar é assim. Acham-se palavras que caem.
Caindo de dentro de um livro não lido.
Fui ao quarto ler o livro de literatura, e perto da página
quarenta caiu de dentro dele um bilhete.
Apanhando um caderno de anotações em seguida, caiu de dentro
dele um outro bilhete “daqueles que não são entregues”.
Achar é assim. Acham-se palavras que caem.
Caindo de dentro de um livro não lido.
quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010
Convite
Faço a você um convite (mon amour)
por favor me abandone agora neste
instante
Faça essa promessa: você não vai me escrever nunca mais.
Preciso acreditar que, de repente,
num suspiro,
você está prestes a desaparecer no ar,
no mar, no fogo,
na areia.
por favor me abandone agora neste
instante
Faça essa promessa: você não vai me escrever nunca mais.
Preciso acreditar que, de repente,
num suspiro,
você está prestes a desaparecer no ar,
no mar, no fogo,
na areia.
terça-feira, 9 de fevereiro de 2010
Se não fosse a passagem
Enjoativa voz se vá.
A exatidão não recorta sonhos.
O poema perdido na praia começava assim:
Depois de ler Ana Cristina César
E queria dizer, não ele dizia assim: você que gosta de mim
Conte o mistério, uma duas ou três.
Depois abra os olhos num mar verde-azul piscina e
me escreva um sonho erótico.
Depois se perdeu perdido, se apaga.
Mas grão de areia e sol, grão de areia.
São mensagens sem itinerário, elas me dizem do que não quer ser dito.
Ondas invadindo o verão.
Se você soubesse das folhas que caíram em setembro e não acordaram os mortos.
Palavras que dizem silêncio num tom de azul que nunca seria qualquer
Não fosse um incêndio. Não fosse um poema no entardecer.
Não fosse. As palavras não pronunciadas.
A exatidão não recorta sonhos.
O poema perdido na praia começava assim:
Depois de ler Ana Cristina César
E queria dizer, não ele dizia assim: você que gosta de mim
Conte o mistério, uma duas ou três.
Depois abra os olhos num mar verde-azul piscina e
me escreva um sonho erótico.
Depois se perdeu perdido, se apaga.
Mas grão de areia e sol, grão de areia.
São mensagens sem itinerário, elas me dizem do que não quer ser dito.
Ondas invadindo o verão.
Se você soubesse das folhas que caíram em setembro e não acordaram os mortos.
Palavras que dizem silêncio num tom de azul que nunca seria qualquer
Não fosse um incêndio. Não fosse um poema no entardecer.
Não fosse. As palavras não pronunciadas.
quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010
terça-feira, 26 de janeiro de 2010
(ensaio) uma leveza
erradia
anoi(tecer)
os tamanhos e as formas necessárias onde se caiba um desejo.
textura e gosto
Acordar tudo
Não dizer
Dizer qualquer coisa que tivesse na boca o gosto de boca.
anoi(tecer)
os tamanhos e as formas necessárias onde se caiba um desejo.
textura e gosto
Acordar tudo
Não dizer
Dizer qualquer coisa que tivesse na boca o gosto de boca.
segunda-feira, 25 de janeiro de 2010
segunda-feira, 18 de janeiro de 2010
Variações
Estava pensando sobre a obscenidade de escrever qualquer coisa em meio a essas notícias terríveis sobre a catástrofe no Haiti e já me sentindo estranha por ter escrito já, qualquer outra coisa.
Mas acabo de assistir o programa Roda Viva onde o entrevistado foi o escritor israelense David Grossman e quase não tenho as palavras para dizer da genealidade e da simplicidade das coisas que ele disse.
E da capacidade humana, do esforço de habitar o mais cruel dos paradoxos que é viver em um país em guerra e buscar no humano um modo possível de viver a complexidade dos extremos.
Do que me ocorre agora,do que me marcou da sua fala foi a relação dele com a literatura,que ele não sai mais forte depois de ter escrito um livro, e sim, mais despedaçado (não foi essa palavra que ele usou, mas) mais frágil, e que sua tentativa é explorar em si, é desconcertar-se, é sair de fato, mais desacomodado do que antes.
Acabo de me apaixonar. Um escritor que sequer eu sabia da existência.
E embora não faria diferença no meu já estado de arrebatamento, ele também foi tocado pela Clarice Lispector.
Mas acabo de assistir o programa Roda Viva onde o entrevistado foi o escritor israelense David Grossman e quase não tenho as palavras para dizer da genealidade e da simplicidade das coisas que ele disse.
E da capacidade humana, do esforço de habitar o mais cruel dos paradoxos que é viver em um país em guerra e buscar no humano um modo possível de viver a complexidade dos extremos.
Do que me ocorre agora,do que me marcou da sua fala foi a relação dele com a literatura,que ele não sai mais forte depois de ter escrito um livro, e sim, mais despedaçado (não foi essa palavra que ele usou, mas) mais frágil, e que sua tentativa é explorar em si, é desconcertar-se, é sair de fato, mais desacomodado do que antes.
Acabo de me apaixonar. Um escritor que sequer eu sabia da existência.
E embora não faria diferença no meu já estado de arrebatamento, ele também foi tocado pela Clarice Lispector.
domingo, 17 de janeiro de 2010
“Amável mas indomável
SE SABIA HOMEM POETA de uns côncavos de musgo e prodigioso eco, à noite ele esperava que a lua habitasse o papel, poderia ter sido lenhador, não o que abate, mas o que acaricia, lenhador-amante, homem de amor, Lih, inútil também porque ainda que os olhos tivessem conhecido o de dentro dos jacintos e coisas inomináveis e flagelos, difícil se fazia traduzir para o outro, conhecimento, ciência maior, compaixão, espectro junto Lih, imantado de luar, escrevia: é lícito cantar de amor quando o rei é cruel em seu reinado?”
HH em Rútilos, p.31
SE SABIA HOMEM POETA de uns côncavos de musgo e prodigioso eco, à noite ele esperava que a lua habitasse o papel, poderia ter sido lenhador, não o que abate, mas o que acaricia, lenhador-amante, homem de amor, Lih, inútil também porque ainda que os olhos tivessem conhecido o de dentro dos jacintos e coisas inomináveis e flagelos, difícil se fazia traduzir para o outro, conhecimento, ciência maior, compaixão, espectro junto Lih, imantado de luar, escrevia: é lícito cantar de amor quando o rei é cruel em seu reinado?”
HH em Rútilos, p.31
sexta-feira, 15 de janeiro de 2010
a vida estava ali
já sei de outros começos, amor palavra-caindo do teto, encharcando tudo, não é uma mulher, nem o prazer de construir o verso, é a volúpia de olhar, de
olhar tudo o que está vivo
Aquele prêmio nobel japonês suicidou-se
quem? por quê?
porque não havia mais cerejeiras
(Hilda Hilst, fragmentos livro Tu não te moves de ti)
olhar tudo o que está vivo
Aquele prêmio nobel japonês suicidou-se
quem? por quê?
porque não havia mais cerejeiras
(Hilda Hilst, fragmentos livro Tu não te moves de ti)
sexta-feira, 8 de janeiro de 2010
sobre o desaparecimento dEla em mim
"Onde é que eu fui parar?
Aonde é esse aqui?
Não dá mais pra voltar
Por que eu fiquei tão longe?
Longe..."
(Arnaldo Antunes)
Aonde é esse aqui?
Não dá mais pra voltar
Por que eu fiquei tão longe?
Longe..."
(Arnaldo Antunes)
segunda-feira, 4 de janeiro de 2010
Despedida de um 26 agosto de 2008
Falas de silêncio_______são fiapos_ ______ _ __
Construções de uma ausência. Ou um excesso de uma presença de um outro que já não pode estar presente. O silêncio é uma flecha em pleno vôo (flechas voam?) sim, de certa maneira. As sutilezas, as cintilâncias, as delicadezas. A dormência que o amor vai se fazer evocar. Como um grito acolhido e tomado nos braços.
Vamos juntos, mas ausentes. Vamos juntos, com o coração chovido de Neruda, com os passos partidos, e os ossos um pouco mais escorregadios, pois a alma já não se aquieta na estrutura feita pra segurar órgãos, tecidos.
Fiapos. O coração bate. Contra-convulso.
Vamos separar palavra por palavra, vamos separar as asas. Separar os oxigênios do ar.
Separar os lábios dos ouvidos, e os sexos das mãos.
03.09.2008
Construções de uma ausência. Ou um excesso de uma presença de um outro que já não pode estar presente. O silêncio é uma flecha em pleno vôo (flechas voam?) sim, de certa maneira. As sutilezas, as cintilâncias, as delicadezas. A dormência que o amor vai se fazer evocar. Como um grito acolhido e tomado nos braços.
Vamos juntos, mas ausentes. Vamos juntos, com o coração chovido de Neruda, com os passos partidos, e os ossos um pouco mais escorregadios, pois a alma já não se aquieta na estrutura feita pra segurar órgãos, tecidos.
Fiapos. O coração bate. Contra-convulso.
Vamos separar palavra por palavra, vamos separar as asas. Separar os oxigênios do ar.
Separar os lábios dos ouvidos, e os sexos das mãos.
03.09.2008
domingo, 3 de janeiro de 2010
Se eu dissesse cor ou som
A um infinito qualquer
Se eu distância, ponta dos dedos, escuro
Então o dia e sinuosidades
Os sinos que não tocam ou os lugares que não foram
Finas palavras não usadas
Fecham duas superfícies e depois
Cheiro de frutos
Queda u m corpo
litoral recortado pálpebras
ou sardas
não importa, se eu dissesse
qualquer ou infinito
soçobram letras
a meio a caminho de um infinito ou qualquer
A um infinito qualquer
Se eu distância, ponta dos dedos, escuro
Então o dia e sinuosidades
Os sinos que não tocam ou os lugares que não foram
Finas palavras não usadas
Fecham duas superfícies e depois
Cheiro de frutos
Queda u m corpo
litoral recortado pálpebras
ou sardas
não importa, se eu dissesse
qualquer ou infinito
soçobram letras
a meio a caminho de um infinito ou qualquer
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