sexta-feira, 30 de abril de 2010

Alfabeto Enfurecido

Exposição de Léon Ferrari e Mira Schendel na Fundação Iberê Camargo, até 11 de julho.

Ambos investigam os códigos da escrita, investigam a linguagem, visual e temática.

Imperdível, estive lá hoje e para minha surpresa, a capa do livro Galaxias, do Haroldo de Campos

é um trabalho de 1972, da Mira Schendel, e está ali na fundação!

http://www.iberecamargo.org.br/content/programacao/page.asp?cat_id=68

Anotação de sensação, sobre Sem Título (Sermão do Sangue), Léon Ferrari, 1962, Série de três desenhos com linha colorida. Resultam da leitura do poema do amigo, que teria lido em voz alta (Rafael Alberti):

1º - As linhas estão úmidas (me lembra nanquim), alguns poucos em vermelho-rosa se diluem. Como representar um poema em linha? Ferrari tenta, dá aqui seu testemunho gestual-linhas da escuta de um poema do amigo exilado. Embora algo de úmido nas linhas, há também um rarefeito, areado. O ar atravessa em alguns pontos.

2º - Mais ocre. Amarelo e vermelho alaranjado "sangue seco", queria Ferrari. Aqui o traço fino se intensifica. Um vista aérea de povoados, cidades perdidas. Condensações coaguladas. Algo que busca uma ligação. Algumas linhas esticam-se à procura. A procura de quê?

3º - Apenas veias, o sangue sobre o emaranhado fino fino fino como cabelos dentro d'água finos finos finos. Canais, ou até mesmo um mapa de um país demarcando seus diferentes estados.
Há uma gravidade limpa. Gravidade silenciosa ou muda. Qualquer coisa triste.

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