quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Lumin tila corpórea

Passou um corpo, meteoro.
Sim. Cintila.
Lunar admite.
Passou espera meteoro
um corpo
Estrelaestá

Lumin tila corpórea

desenhosono desperta:
desmesura dos olhos

passando.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Espaçamentos, metro cúbico, medida de ar.

A palavra-borda
letras
escrevem Ar, fio, ínfimo-finito,
fino-fio
pio-fio
pífio
ar.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Começo XIV - um último começo: o recomeço?

Todas as palavras já ditas aqui. Ainda dizem? Aqui?

E o sol que pousou de leve no teu ombro naquela manhã, sem rumo?

E aquela tarde quando você caminhou na direção oposta à minha e foi a última vez que nos olhamos sem poder dizer nenhuma palavra?

E todos os dias que se seguem sem que pudéssemos recolher um pedaço de qualquer coisa para se ter junto, na hora em que se percebe de volta ao caminhar.

Não há nenhum passo ali, que pudesse retornar ao passo anterior. E nenhum passo futuro, que não carregue esses pedaços de acontecimentos.

É uma ordenação fragmentária de começos, onde começo, e recomeço a cada instante

E vem a necessidade de dizer uma vez mais, uma vez ainda, de uma passagem que talvez não acabe nunca de passar.

Entre o eu e o Outro, a distancia que nos possibilita respirar o silêncio de uma presença que nos ultrapassa. E será para sempre, agora, antes e também depois que já tiver passado a necessidade de dizer.

Espécie de retorno ao estrangeiro que há em mim e no outro. Nunca nos encontraremos?

É um esforço de falar e escutar?

O que oferece a palavra, que é sempre necessário retornar a ela?

Será a palavra o receptáculo de uma queda, que permanece, caindo para sempre?

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Dois poemas de 2008

Queria revelar
O sem-nome das
horas
E guardar num sopro
a escuridão e a claridade
da mesma palavra
Queria encontrar um
lugar, mas não sei como ele é
O lugar da distância vai se
guardando
A palavra da Vida
a palavra
E a vida?
E a vida?
E a vida?

30.11.2008 3h a.m.


Num sistema
fechado de
arcabouços
Numa nuvem velha de tristeza
Em dois olhos abertos a
fitar a noite, num
tempo de capital em que
não se vê as estrelas
Perco a conectividade
com o rumor da
madrugada
Acho o cansaço
do dia sem
viver o sono.

30.11.2008 3h a.m

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Era na chuva
reter o instante

de subtração
cinco minutos antes da partida.

Apagamento da letra
turvar os traços

caindo tão lentamente os pingos.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Foi para encontrar a chuva.

O que dizer dos reflexos não traduzidos pela água?

Fui ao quarto ler o livro de literatura, e perto da página
quarenta caiu de dentro dele um bilhete.

Apanhando um caderno de anotações em seguida, caiu de dentro
dele um outro bilhete “daqueles que não são entregues”.

Achar é assim. Acham-se palavras que caem.
Caindo de dentro de um livro não lido.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Convite

Faço a você um convite (mon amour)

por favor me abandone agora neste
instante

Faça essa promessa: você não vai me escrever nunca mais.

Preciso acreditar que, de repente,
num suspiro,

você está prestes a desaparecer no ar,
no mar, no fogo,
na areia.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Se não fosse a passagem

Enjoativa voz se vá.
A exatidão não recorta sonhos.
O poema perdido na praia começava assim:
Depois de ler Ana Cristina César
E queria dizer, não ele dizia assim: você que gosta de mim
Conte o mistério, uma duas ou três.
Depois abra os olhos num mar verde-azul piscina e
me escreva um sonho erótico.
Depois se perdeu perdido, se apaga.
Mas grão de areia e sol, grão de areia.
São mensagens sem itinerário, elas me dizem do que não quer ser dito.
Ondas invadindo o verão.
Se você soubesse das folhas que caíram em setembro e não acordaram os mortos.
Palavras que dizem silêncio num tom de azul que nunca seria qualquer
Não fosse um incêndio. Não fosse um poema no entardecer.
Não fosse. As palavras não pronunciadas.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Um ponto de algodão encharcado
um nó atado na palma
a dissolução da vida em
palavras
O erótico da letra se acumula
fazendo beira, parapeito, trampolim.
Mas este Outro não há?

É o salto no vazio.