terça-feira, 4 de abril de 2017

2017

Poderia ser o andar mais alto de um prédio.

Poderia ser um dos bilhetes de loteria que não foi sorteado.

Poderia ser uma rua que não existe.

Poderia ser ainda a variação de um tom de lilás que ninguém percebeu na paleta de Florbela Espanca.

Poderia ser o número da flor de papel que a cunhada obsessiva de J. terminou de dobrar antes de ir dormir, depois de uma noite insone, numa manhã de outono.

Poderia ser o suspiro que queimou na fornada e foi descartado.

Poderia ser a linha de um romance comercial que descreve relações entre humanos e gatos em ambientes domésticos.

Poderia ser o vidro consertado do vidraceiro no seu terceiro ano de trabalho.

Poderia ser a duplicação de degraus de uma cratera em Honolulu ou numa escadaria em Huairou.

Poderia ser a gota após 20 segundos do começo da chuva em um chão de terra vermelha ferrosa.

Poderia ser quatro vezes o tempo que levou para descobrirem que as plantas desenvolveram mecanismos para absorver menos carbono, pois estavam “passando mal” por conta da alta exposição ao mesmo.

Poderia ser o número de aplausos após uma palestra de Psicologia Cósmica em Porto Alegre no ano de 1982, chamada A revolução silenciosa, mas também poderia ser o número de aplausos de Gorbatchev, em uma página de  Dossiê Moscou, publicado no ano de 2004.

Poderia ser o enunciado de um problema de matemática para calcular o montante do juro simples que em meio a um asterisco calcula-se a taxa e o capital, junto ao tempo e/ou período de aplicação.

Poderia ser o número de peças encomendadas por uma empresa a uma oficina no Bairro de Bom Retiro em São Paulo que se utilizava de trabalho escravo – bolivianos, submetidos a jornadas exaustivas, à servidão por dívida,  e a condições de trabalho degradantes. 

Poderia ser o número de matérias-primas utilizadas por uma indústria para produzir sabores naturais e sintéticos, autorizados por legislações internacionais que regulam o setor de alimentos. Demoram, em média, 40 dias para desenvolverem o aroma.

Poderia ser o número de mortos em 16 povoados na Nigéria, num ataque de um grupo extremista islâmico em janeiro de 2015.

Poderia ser metade do número de suicídios registrados ao ano no Estado Do Rio Grande do Sul, e quinze vezes o número de suicídios ao ano no Japão.