sexta-feira, 5 de março de 2010

Mini conto

Ele pára nu na frente do espelho e não imagina a
imensidão que o separa dela.
Vê seus olhos, seu sorriso, quer estar mais
próximo. Ele está nu e cansado.
Na cadeira onde está sentado, enquanto acontece
uma oficina de escrita,
duvida de si mesmo, sobre seus anseios literários,
perde a referência do próprio
desejo e fica angustiado, repentinamente. Como se nada
naquele instante se
pudesse alcançar. Nem as palavras que ele próprio
espera dele, nem a mulher distante
que já não encontra há algum tempo.

Os temas da oficina o agradam, o fracasso,
a espera sem objeto de espera, e
a escritura, como a única matéria pulsante,
em vidas quase desesperadas?
Mas a escrita também pode ser outra coisa?
Talvez se ela não estivesse tão
distante assim? Se talvez ela lhe dissesse
que sentia saudades do tempo
em que estiveram juntos? Que ele não estava
nu e sozinho, patético a
mirar um espelho. Mas ao contrário,
estava sentado ao lado dela na oficina de
escrita no meio de uma tarde de vento,
e que quando pudessem sair a rua,
veria seus cabelos esvoaçantes?

Ele não sabe.
Escreve pequenos textos como este:

O peso
sobre a pétala
no pousar de uma borboleta
(hoje) fere meus lábios de você.

Ela sorri para ele.

Qual será a verdadeira distância entre
um homem nu, sozinho, e sua vontade?

...
Exercício realizado na Oficina de Escritura Vita Nova
VIDARBO, em setembro de 2009 e postado no blog:
http://oficinasdeescritura.blogspot.com

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