quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Projeto Ausências Brasil
torna os desaparecidos presentes
Exposição de fotografias

O Arquivo Público do Estado de São Paulo abre nesta sexta-feira (7 de dezembro), a exposição de fotografias do Projeto Ausências Brasil. A mostra denuncia os assassinatos cometidos durante a ditadura militar de uma maneira inusitada: com fotos onde os personagens principais não estão presentes. A Agência Livre para Informação, Cidadania e Educação (ALICE) - responsável pela coordenação do trabalho- garimpou retratos nos álbuns das famílias dos desaparecidos políticos e o fotógrafo argentino Gustavo Germano remontou as mesmas cenas, com personagens e cenários idênticos, evidenciando assim a dolorosa falta daqueles que não se encontram mais ali.
Idealizado por Germano, o Projeto Ausências foi inicialmente realizado na Argentina. Por meio de parceria com a Alice e convênio firmado com a Secretaria dos Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR), tornou-se possível montar a versão brasileira. A ALICE é uma Ong gaúcha, com sede em Porto Alegre, que trabalha pelo direito à comunicação e resgate da memória brasileira. A intenção é ampliar o trabalho aos demais países latino-americanos marcados por ditaduras militares.
Durante os meses de junho e julho de 2012 a equipe formada por Gustavo Germano, Luciano Piccoli e André Garcia rodou o Brasil fotografando familiares de diversos mortos e desaparecidos, entre eles Bergson Gurjão Farias, Luiz Almeida Araújo, Fernando Augusto De Santa Cruz Oliveira, Iuri Xavier Pereira, Alex de Paula Xavier Pereira, Arnaldo Cardoso Rocha, Jana Moroni Barroso, Ana Rosa Kucinski Silva, Devanir José de Carvalho, Virgílio Gomes da Silva, Luiz Eurico Tejera Lisboa, João Carlos Haas Sobrinho. O folder produzido especialmente para a exposição, conta a história de 12 casos brasileiros e cinco argentinos, revelando aspectos da vida dessas pessoas.
A coordenadora geral do projeto, a jornalista gaúcha Rosina Duarte, conta nesta entrevista como aconteceu o encontro entre a ALICE e o trabalho do fotógrafo Gustavo Germano e faz uma avaliação do seu significado estético e político no atual momento brasileiro.

1. Como a ALICE entrou em contato com o trabalho do fotógrafo Gustavo Germano? E por que decidiu replicar a exposição aqui no Brasil?
A ALICE tem convênio com a Secretaria dos Direitos Humanos da Presidência da República e do Ministério da Justiça – por meio da Comissão da Anistia - e vem trabalhando com a recuperação da memória do período da ditadura militar há mais de cinco anos. O projeto do fotógrafo Gustavo Germano, pela sua originalidade e impacto, tornou-se bastante conhecido no âmbito dos Direitos Humanos e, ao tomarmos conhecimento dele, montamos a parceria com a SDH. Importante lembrar que a ALICE é uma organização não governamental focada no direito à comunicação e à informação – garantidas pelo artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos. A recuperação da memória faz parte desta proposta pois, sem o conhecimento dos fatos é impossível que os cidadãos desenvolvam consciência crítica e perspectiva histórica. Nesse sentido, a ALICE desenvolveu um trabalho composto de exposições fotográficas itinerantes sobre o período (duas versões diferentes para a SDH e uma para a Comissão da Anistia) que já foram vistas por mais de 3 milhões de pessoas em todo o Brasil. Também instalou memoriais- feitos em aço naval e contendo textos explicativos- em locais públicos de grande circulação, em diversas cidades do país. Dessa forma, contribui para formar uma ponte histórica sobre o enorme fosso de desinformação a respeito do período ditatorial.
2. Qual o significado político e estético desse trabalho nas circunstâncias brasileiras?
Existem povos que não permitem fotografias porque acreditam que as imagens impressas lhes roubam a alma. Com este trabalho, estamos fazendo exatamente o contrário. Ou seja, ao fotografar a ausência de pessoas imprescindíveis à luta pela redemocratização no Brasil, trazemos de volta o seu espírito de luta pela verdade, a memória e a justiça. Trata-se de uma denúncia sem voz, sem palavras, sem rosto. Isso é absolutamente inovador e impactante. Números são frios, informações se perdem no emaranhado de contra-informações. Hoje existem pessoas pregando que o tempo da ditadura era melhor porque não havia corrupção, nem escândalos políticos, nem violência. O que elas não dizem é que a imprensa era amordaçada e a política era um circo de marionetes e quem se atrevesse a abrir a boca era preso, torturado e assassinado. Por isso tudo ficava abafado no silêncio imposto pelo taco dos coturnos. Mas como os jovens podem saber se não viveram essa realidade e quase nada lhes foi transmitido sequer nas escolas – estas também afogadas em uma reforma do ensino destinada forjar cidadãos obedientes? A Exposição Ausências, portanto, faz o papel não apenas de informar como de transmitir a dor dos familiares e o quanto o País perdeu com a morte dessas pessoas que hoje possívelmente tivessem fazendo a diferença na sua história.

Projeto Ausências Brasil
Coordenação geral - Rosina Duarte – Coordenadora da ALICE
Curadoria e fotografia - Gustavo Germano
Imagens históricas: Acervos de Família
Produtor executivo: Luciano Piccoli
Filmagem e making off: André Luis Garcia
Apoio logístico: Brasil Imagens
Produção e realização: ALICE (Agência Livre para Informação, Cidadania e Educação) – www.alice.org.br

Contatos com Rosina Duarte:
rosinadeduarte@gmail.com
xxx 51 9710.4304 (Porto Alegre/RS)

Imagens:
Lavoro Comunicação
producaolavoro@gmail.com
xxx 51 3407.5844

JUSSARA PORTO
Assessoria de Imprensa e Divulgação
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