sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Pise de leve na beira desta letra: cuidado ao entrar: palavras forjadas para um entretenimento breve.

Estou escrevendo para você, meu amor, que esteve aqui comigo nesta cama. Li a pouco a frase de um livro e pensei em você. Nas coisas engraçadas que você diz, com sono. A primavera chegou com chuva e um pouco de frio. Exatamente a mesma primavera de um ano atrás. Molhada, com folhas e desejos caídos, e as impossibilidades todas. Foram. Estamos agora tão perto. Estendo minhas mãos e aliso os teus cabelos. Você sempre soube que era o amor o dono de todas as palpitações? O tremor das mãos me escrevendo, ou quando seu rosto afogueou-se naquele restaurante. Você havia me mandado um poema cheio de belas palavras na véspera... Ando lendo tanto, escrevendo menos do que eu gostaria e me recuperando de um último golpe de intensidade.
Imagino que você saiba. Não imagino nada. Sei apenas de mim. Das palavras que invento para me tornar um pouco mais leve. Inventar mentiras, sentimentos. Forjar amantes e mesmo uma primavera fria.
Fico te olhando dormir. E ainda penso que você é um completo estranho para mim. Não sei nada de você. Não. Até conheço um pouco, confesso. Textura, sardas, um jeito de falar, um jeito de beijar. Pequenos sons que você emite. Conheço algumas palavras que você gosta de usar, alguns livros que você gosta de ler. Temos dois gatos que passam atirados no sofá, você implica com eles. E a cada dia vai descobrindo suas próprias qualidades felinas. Quase ronrona e passa roçando meu corpo quando é domingo de manhã e passamos o dia atirados dentro do apartamento.
Voltou a chover. Puxo a coberta sobre teus ombros. Amanhã de manhã eu mesma vou fazer as malas.
Pegamos um barco e passamos o dia fingindo que estamos num cruzeiro. O mar é azul escuro, há qualquer coisa de grave quando não dá mais pé. Pode acontecer de alguém cair e se afogar. De tardezinha paramos numa pequena praia. Gosto da areia, cato conchas, faço alongamentos, deito nela, na areia e você me faz rir de tudo. Depois fica noite. Eu reconheço sempre as mesmas estrelas. As nuvens de Magalhães, a constelação de Touro, perto das Plêiades, lá pelas 4h da manhã é a constelação de escorpião, e sua espiral na cauda. Você beija minha mão, minha nuca. Sussurra palavras impossíveis e me obriga a ser estrela, mar, chuva, tempestade. Dormimos abraçados, nus. Você e eu. Moramos lado a lado. Apenas um oceano de distância. As tartarugas marinhas são enormes, estão nadando no mar.

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