quarta-feira, 30 de março de 2011

Seminário “Memória, verdade e justiça”

Entre hoje e sexta-feira, acontece o seminário “Memória, verdade e justiça: as marcas das ditaduras do Cone Sul”. A abertura será realizada às 18h30min, com um pocket show sobre as músicas censuradas pela ditadura militar, no Teatro de Arena (Av. Borges de Medeiros, 835 – Centro). Às 19h, ocorre uma mesa redonda intitulada “Ditaduras de segurança nacional: o sequestro de crianças”, com Camilo Celiberti e Edson Teles e mediação de Ananda Fernandes, no Memorial do RS (Rua Sete de Setembro, 1020 – Centro). No dia 31, quinta-feira, após apresentação musical com Raul Ellwanger, será realizada outra mesa redonda, sobre “Memórias da resistência no RS”, às 19h. O debate tem participação de Raul Pont, Sereno Chaise e Antenor Ferraro e mediação de César Augusto Guazzelli e Jefferson Fernandes e ocorre no Plenarinho da Assembleia Legislativa (Praça Mal. Deodoro, 101 – Centro). Encerrando a programação, na sexta-feira, acontece uma intervenção teatral com a Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz, às 18h, e, às 19h, o debate sobre “Memória, verdade e justiça: os direitos humanos e os deveres do Estado”. Com as presenças de Maria do Rosário, Suzana Lisbôa, Estela de Carlotto e Luis Puig, a mesa tem mediação de Enrique Padrós e inicia às 19h no Salão de Atos II da UFRGS (Av. Paulo Gama, 110 – Centro). O evento tem entrada franca e não é necessário fazer inscrição antecipada.

Retirado de: http://www.ufrgs.br/ufrgs/

terça-feira, 22 de março de 2011

Afagos de Caio

Andando pela casa, sentindo os dias, o doméstico acumulado impossível.
Pensando nas palavras escritas, das saudades, do sentimento mundo de ser, de estar.
Dos que agora separados, de outros que não, ou os que tentam e fracassam. Da dificuldade de estar à espera, mesmo que sem objeto.

Um tanto de invenção, ligeira, um charme forçado e incapaz de descansar nas palavras.

Mas do que realmente me trouxe às teclas foi a saudade de uma crônica de Caio Fernando Abreu. Que catei no google, para não reescrever palavra por palavra. Crônica publicada no jornal O Estado de S. Paulo, no dia 08/07/1986. Que se encontra no livro Pequenas Epifanias, e que concentra, para mim, claro, o que Caio tinha de melhor,e que nome dar, para isso? Um amor pelo vivo, por aquilo que pulsa, que cintila, que obscurece, que marca. Pensando melhor, devo muito a Caio, principalmente por ele ter me apresentado à Hilda, mas esta já é outra história. Então, para fazer uma espécie de homenagem ao Caio e aos perecíveis de Neruda, e todos aqueles que, ainda [ ]:

EXTREMOS DA PAIXÃO

"Não, meu bem, não adianta bancar o distante
lá vem o amor nos dilacerar de novo..."


Andei pensando coisas. O que é raro, dirão os irônicos. Ou "o que foi?" - perguntariam os complacentes. Para estes últimos, quem sabe, escrevo. E repito: andei pensando coisas sobre amor, essa palavra sagrada. O que mais me deteve, do que pensei, era assim: a perda do amor é igual à perda da morte. Só que dói mais. Quando morre alguém que você ama, você se dói inteiro(a)- mas a morte é inevitável, portanto normal. Quando você perde alguém que você ama, e esse amor - essa pessoa - continua vivo(a), há então uma morte anormal. O NUNCA MAIS de não ter quem se ama torna-se tão irremediável quanto não ter NUNCA MAIS quem morreu. E dói mais fundo- porque se poderia ter, já que está vivo(a). Mas não se tem, nem se terá, quando o fim do amor é: NEVER.
Pensando nisso, pensei um pouco depois em Boy George: meu-amor-me-abandonou-e-sem-ele-eu-nao-vivo-então-quero-morrer-drogado. Lembrei de John Hincley Jr., apaixonado por Jodie Foster, e que escreveu a ela, em 1981: "Se você não me amar, eu matarei o presidente". E deu um tiro em Ronald Regan. A frase de Hincley é a mais significativa frase de amor do século XX. A atitude de Boy George - se não houver algo de publicitário nisso - é a mais linda atitude de amor do século XX. Penso em Werther, de Goethe. E acho lindo.

No século XX não se ama. Ninguém quer ninguém. Amar é out, é babaca, é careta. Embora persistam essas estranhas fronteiras entre paixão e loucura, entre paixão e suicídio. Não compreendo como querer o outro possa tornar-se mais forte do que querer a si próprio. Não compreendo como querer o outro possa pintar como saída de nossa solidão fatal. Mentira:compreendo sim. Mesmo consciente de que nasci sozinho do útero de minha mãe,berrando de pavor para o mundo insano,e que embarcarei sozinho num caixão rumo a sei lá o quê, além do pó.O que ou quem cruzo entre esses dois portos gelados da solidão é mera viagem: véu de maya,ilusão,passatempo.E exigimos o terno do perecível,loucos.

Depois, pensei também em Adèle Hugo, filha de Victor Hugo. A Adèle H. de François Truffaut, vivida por Isabelle Adjani. Adèle apaixonou-se por um homem. Ele não a queria. Ela o seguiu aos Estados Unidos, ao Caribe, escrevendo cartas jamais respondidas, rastejando por amor. Enlouqueceu mendigando a atenção dele. Certo dia, em Barbados, esbarraram na rua. Ele a olhou. Ela, louca de amor por ele, não o reconheceu. Ele havia deixado de ser ele: transformara-se em símbolosem face nem corpo da paixão e da loucura dela. Não era mais ele: ela amava alguém que não existia mais, objetivamente. Existia somente dentro dela. Adèle morreu no hospício, escrevendo cartas (a ele: "É para você, para você que eu escrevo" - dizia Ana C.) numa língua que, até hoje, ninguém conseguiu decifrar.

Andei pensando em Adèle H., em Boy George e em John Hincley Jr. Andei pensando nesses extremos da paixão, quando te amo tanto e tão além do meu ego que - se você não me ama: eu enlouqueço, eu me suicido com heroína ou eu mato o presidente. Me veio um fundo desprezo pela minha/nossa dor mediana, pela minha/nossa rejeição amorosa desempenhando papéis tipo sou-forte-seguro-essa-sou-mais-eu. Que imensa miséria o grande amor - depois do não, depois do fim - reduzir-se a duas ou três frases frias ou sarcásticas. Num bar qualquer, numa esquina da vida.

Ai que dor: que dor sentida e portuguesa de Fernando Pessoa - muito mais sábio -, que nunca caiu nessas ciladas. Pois como já dizia Drummond, "o amor car(o,a,) colega esse não consola nunca de núncaras". E apesar de tudo eu penso sim, eu digo sim, eu quero Sins.

(in Pequenas Epifanias)

domingo, 13 de março de 2011

Achados e Perdidos I

À procura de uma coisa, encontrei outra, um escrito me parece de 2009 e duas citações:

O amor vai se acabar esta tarde. E ela nem imagina que isso poderia acontecer. O amor vai se acabar esta tarde.
O amor vai acabar na praia de nome estapafúrdio e ninguém saberá jamais.
O amor vai se acabar esta tarde.
Com areia molhada e mais nenhuma promessa para Iemanja.
O amor vai se acabar nesta tarde, um anúncio do outono sobre sua própria
palavra.
O amor vai se acabar nesta tarde macia
pisando no acolchoado de folhas.
Já não é tarde e já não é cedo. O amor se acabou numa tarde.


"Tinha de permanecer ao lado de fora tal como o porteiro que deve deixar passar os eleitos. Portanto, sua relação com as letras era cheia de renúncia" (p.105)

"E a escrita se assemelha ao seu autor em que é um esconderijo incomparável de imagens. Um refúgio da história universal. Pois no autor moram, se alojam imagens, sabedorias, palavras, que sem ele - quem poderia dizer depois de tudo e de que modo se teriam firmado em nossos dias?" (p.205)

(Walter Benjamin, Rua de Mão Única. Obras escolhidas, V.2, Brasiliense, 1995)

sábado, 5 de março de 2011

Poema inacabado

Como bocas aéreas que se tocaram como lanças feridas de vento,
Como o pulso que me bate a cada breve ido já e novo.
Danço sobre tuas asas, na corda tocada, uma nota que ninguém ouviu, nem eu, cantando.
Deito os ouvidos na palavra esculpida, soa revoar acolchoar, cerzir camadas, vejo sobre, vejo, o denso, toco véus de onde não. Visto véus onde não.