[Senti o mar na pele dele.
Toquei nas ondas e na imensidão
salgada.
Três anos de lágrimas]
Não sei se posso tocar nas cicatrizes que guardei.
É preciso um mar inteiro de lágrimas
de um amor que já
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Fim de julho, 5 meses depois de um assassinato.
[os cúmplices estão todos soltos]
Sonho com restos de
maldadade
Com pedaços de horror/fragmentos
Poeira de crueldade
No fundo da catástrofe
me lembro do seu rosto.
De alguma lembrança borrada
e não consigo mais chorar.
Embora alguma coisa tão
ínfima e desfigurada
Reste no fundo de um
copo sem fundo.
São coisas que não se atravessam. São
as letras do seu nome que ainda restam
dentro do meu.
A violência sem medidas
que deixei morrer
e que abandonei.
Conscerto do desejo - Matheus e Maria Cecília Nachtergaele
"São gestos de poeira,
andar de poeta que anda muito desajeitadamente
O mais urgente
(...)
O mais urgente.
Talvez tristeza,
Talvez choro
Bem aventurados são os ursos
Amar
Amar bastante
Sofrer muito
Ser triste
A tragédia nos acompanha: morreremos.
Desse jeito você sempre vai ser só. Não seja assim.
Tente não ser assim. Em você não há busca. Assim não pode ser feliz.
Não é por minha causa que eu digo. Eu confesso, também em mim a procura
acabou. Mas por você, pela felicidade de você, pela ternura. Esse verso vai ficar
piegas e comprido mas não faz mal, não se você entender que essa minha angústia
é por você. Independentemente, por você.
As pessoas, veja as pessoas como elas são. Eu não acredito que elas precisam tanto
de você quanto você precisa delas. E vai ficando tarde, é uma questão de defesa,
não saia por aí assim, por favor, não saia por aí assim tão seguro de si, dispondo
apenas de uma saudade apaziguada para cada grande tristeza que deveria sentir.
Não seja mais assim, desculpa eu repetir. Ou não vão querer você. E desculpe
também por ter falado tanto. Sei que é bobagem minha, mas eu amo você."
[Sei que estou na idade de obedecê-la, de ir atrás de sua voz que atravessa desde a folha gelada no trigal até o bico da ave que nunca soube pousar na terra e aguarda que um dia os céus se façam quartzo para enfim deter-se num único instante [...] enquanto me humilha, me exalta, me inunda, me exaspera, me seca, me abandona, me faz correr de novo, e não sei como chamá-la de outro modo: meu sangue.]
(trecho poema de Rafael Alberti, que inspirou a tela de Leon Ferrari)
(Leon Ferrari, Sem título [Sermón de la sangue], 1962)
de paraquedas do alto do avião. O paraquedas não abriu,
e eu morri. Dois: um corpo deformado, formas disformes, um borramento narcísico. Não há três. Procura-se agulhas para desarmar bombas: nada pode o ouvido contra o sem-sentido apelo do não. As coisas tangíveis tornam-se insensíveis a palma da mão; Despedir-se. Não ter mais lugar, nem espaço. Compressão do pulmão, dos pulsos, da pele, de um sonho, o fim de um espaço-tempo.Viver num tempo onde o amor perdeu para a banalidade dos corpos. Tentar ser forte agora, que é chegada a nossa hora.Tentar ser forte agora, que é chegada a nossa hora.
O que há no meu peito é um infinito. Miríade de poeira
estelar, grãos luminosos, galáxias inteiras. Um cosmos em combustão. Órbitas
seguras pretas, dois sóis amendoados dos olhos dele. Sou esse espaço e essa
duração, e guardo a possibilidade de me expandir. Colher os grãos de infinito.
Inventar o tempo e o espaço. Desassossego. Tudo se move, tudo em movimento. 13/02/2018