segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Lapso II, ou

Ou Notas de Diário II,


 Meu ultrapassamento

Me guarde amor, dentro das teclas do piano e ali, me esconda. Em silêncio não repita, não repita, não repita mais essas palavras, essa desconexão tardia a fome não pertence ao corpo. Essa fome que eu sinto não é tua, não é dela, não é de lugar nenhum. É do navio que parte em direção ao nada, é a nostalgia da beleza que dura cada instante. E que eu só soube perder mais a cada hora. E o tudo que eu te dei de amor, é só nau-frágil. É o que não há corpo para tocar. É só uma coisa louca que inventei. E que não tem sentido. É uma coisa de brisa de mar, de beira de praia, de amarelos e farelos de pedras de milhões de anos de partículas. É um desfazimento, é um desfeito um desencontrar excesso excessivo que a própria palavra cria, a linguagem que escreve. Não sou eu. São essas letras. E o que elas dizem é uma sombra de árvore na calçada de um dia muito quente de janeiro no hemisfério sul do mundo.

26.01.2015


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