Meu ultrapassamento
Me guarde amor, dentro das teclas do piano e ali, me
esconda. Em silêncio não repita, não repita, não repita mais essas palavras,
essa desconexão tardia a fome não pertence ao corpo. Essa fome que eu sinto não
é tua, não é dela, não é de lugar nenhum. É do navio que parte em direção ao
nada, é a nostalgia da beleza que dura cada instante. E que eu só soube perder
mais a cada hora. E o tudo que eu te dei de amor, é só nau-frágil. É o que não
há corpo para tocar. É só uma coisa louca que inventei. E que não tem sentido.
É uma coisa de brisa de mar, de beira de praia, de amarelos e farelos de pedras
de milhões de anos de partículas. É um desfazimento, é um desfeito um
desencontrar excesso excessivo que a própria palavra cria, a linguagem que
escreve. Não sou eu. São essas letras. E o que elas dizem é uma sombra de
árvore na calçada de um dia muito quente de janeiro no hemisfério sul do mundo.
26.01.2015