"um lanceado sob a ponte. e a força da água não diz a sombra do meu braço, magro, encostado no parapeito. a solapa do limite é meu corpo. posso gritar um drama: death, oh, my death, beacause my eyes aren't closed. esta é uma parte que punge urge e me roça na parede, uma parte que bebe e que é nunca. se a caliça não cumpre, não tem jeito, mas foi este meu alvoroço de espera. e as portas até esperam, mas não como as pessoas. um próximo e feio rangido. a cicatriz dos ausentes num pedaço de lodo penso: alluvione, alluvione. os estilhaços de tempo. amor retorcido ao léu. às vezes tudo se reduz a entulho, a pó, a medo e a uma ou duas variantes de coragem. a marquise de água, por exemplo, a água da avenida, os três metros quadrados de marquise e aquelas calandras num sobrevôo pelos arredores, e um céu techinicolor. são rodopios num sem fio. amor que inventa leveza abraço perjúrio e nojo: às vezes é impossível ficar acordado, ou dormir. o gesto é até possível, quase cancro ou soco na boca."
[De: LIMA, Manoel Ricardo de - o quadrado branco, um - "Quando todos os acidentes acontecem". Rio de Janeiro:7Letras, 2009.]
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