terça-feira, 26 de janeiro de 2010

(ensaio) uma leveza

erradia

anoi(tecer)

os tamanhos e as formas necessárias onde se caiba um desejo.

textura e gosto

Acordar tudo

Não dizer

Dizer qualquer coisa que tivesse na boca o gosto de boca.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Ando perdendo a medida, as palavras.
Quase tudo.

Como está a tarde?
O que tem no cheiro da tarde?
O que arde no cheiro da tarde?

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Variações

Estava pensando sobre a obscenidade de escrever qualquer coisa em meio a essas notícias terríveis sobre a catástrofe no Haiti e já me sentindo estranha por ter escrito já, qualquer outra coisa.
Mas acabo de assistir o programa Roda Viva onde o entrevistado foi o escritor israelense David Grossman e quase não tenho as palavras para dizer da genealidade e da simplicidade das coisas que ele disse.
E da capacidade humana, do esforço de habitar o mais cruel dos paradoxos que é viver em um país em guerra e buscar no humano um modo possível de viver a complexidade dos extremos.
Do que me ocorre agora,do que me marcou da sua fala foi a relação dele com a literatura,que ele não sai mais forte depois de ter escrito um livro, e sim, mais despedaçado (não foi essa palavra que ele usou, mas) mais frágil, e que sua tentativa é explorar em si, é desconcertar-se, é sair de fato, mais desacomodado do que antes.
Acabo de me apaixonar. Um escritor que sequer eu sabia da existência.
E embora não faria diferença no meu já estado de arrebatamento, ele também foi tocado pela Clarice Lispector.

domingo, 17 de janeiro de 2010

“Amável mas indomável

SE SABIA HOMEM POETA de uns côncavos de musgo e prodigioso eco, à noite ele esperava que a lua habitasse o papel, poderia ter sido lenhador, não o que abate, mas o que acaricia, lenhador-amante, homem de amor, Lih, inútil também porque ainda que os olhos tivessem conhecido o de dentro dos jacintos e coisas inomináveis e flagelos, difícil se fazia traduzir para o outro, conhecimento, ciência maior, compaixão, espectro junto Lih, imantado de luar, escrevia: é lícito cantar de amor quando o rei é cruel em seu reinado?”
HH em Rútilos, p.31

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

a vida estava ali

já sei de outros começos, amor palavra-caindo do teto, encharcando tudo, não é uma mulher, nem o prazer de construir o verso, é a volúpia de olhar, de

olhar tudo o que está vivo

Aquele prêmio nobel japonês suicidou-se
quem? por quê?
porque não havia mais cerejeiras

(Hilda Hilst, fragmentos livro Tu não te moves de ti)

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

sobre o desaparecimento dEla em mim

"Onde é que eu fui parar?
Aonde é esse aqui?
Não dá mais pra voltar
Por que eu fiquei tão longe?
Longe..."

(Arnaldo Antunes)

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Despedida de um 26 agosto de 2008

Falas de silêncio_______são fiapos_ ______ _ __

Construções de uma ausência. Ou um excesso de uma presença de um outro que já não pode estar presente. O silêncio é uma flecha em pleno vôo (flechas voam?) sim, de certa maneira. As sutilezas, as cintilâncias, as delicadezas. A dormência que o amor vai se fazer evocar. Como um grito acolhido e tomado nos braços.
Vamos juntos, mas ausentes. Vamos juntos, com o coração chovido de Neruda, com os passos partidos, e os ossos um pouco mais escorregadios, pois a alma já não se aquieta na estrutura feita pra segurar órgãos, tecidos.
Fiapos. O coração bate. Contra-convulso.
Vamos separar palavra por palavra, vamos separar as asas. Separar os oxigênios do ar.
Separar os lábios dos ouvidos, e os sexos das mãos.
03.09.2008
Sobre luzes que se apagam
ressonâncias
tons de cinza numa madrugada
um tal escuro que consome a luz,
claridade aguda varrendo a pele
noclaroescuro do noturno

uma luz excessiva na tarde
piscapiscopiscapisco

são os olhos que se apagam?

domingo, 3 de janeiro de 2010

Se eu dissesse cor ou som

A um infinito qualquer

Se eu distância, ponta dos dedos, escuro

Então o dia e sinuosidades

Os sinos que não tocam ou os lugares que não foram

Finas palavras não usadas

Fecham duas superfícies e depois

Cheiro de frutos

Queda u m corpo

litoral recortado pálpebras

ou sardas

não importa, se eu dissesse

qualquer ou infinito

soçobram letras

a meio a caminho de um infinito ou qualquer