domingo, 31 de outubro de 2010
Vou ao coração de um exílio, as unhas curtas o esmalte é vermelho. O avião parte ao meio-dia, e tudo fica para trás. Depilar, a alma quem sabe? Estar em dois não-lugares ao mesmo tempo. Fabricar mais palavras sobre a mesma distância. Como-se Vírgula, embarcando em um navio no espaço ou A.C.C. O café é a referência. Abrir no mapa grãos, conversas, andar no desconhecido, tornar a vista oca. Comprei rendas delicadas, pregas, branco, azul, e escandaloso vermelho. Na unha, mínima. Vestir uma pintura não pintada, ser linha e papel, apenas no movimento dos dedos. Papel arroz, fino, desfazendo-se no ar.
sábado, 23 de outubro de 2010
A voz do fogo
Incendeiam-se palavras, uma espécie de memória, outros
Incendeia-se o ar, alguma coisa que passa à cinza,
A terra fica escura, e o ar, crepita a labareda
consumidos Livros,
cheiro das páginas e da tinta da caneta,
O nanquim.
Incendeia-se a casa, o branco, o detalhe da letra
Dedicada.
Incendeia-se o hóspede da casa incendiada.
Uma voz que se apaga.
Incendeia-se o ar, alguma coisa que passa à cinza,
A terra fica escura, e o ar, crepita a labareda
consumidos Livros,
cheiro das páginas e da tinta da caneta,
O nanquim.
Incendeia-se a casa, o branco, o detalhe da letra
Dedicada.
Incendeia-se o hóspede da casa incendiada.
Uma voz que se apaga.
sexta-feira, 22 de outubro de 2010
Das negativas
Me disseram que
eu iria cantar
No espelho: cabelos sujos.
Prendo os cabelos e fico
sem cantar.
Arrumei dois pares
de frases, repeti-os
e pensei - é isso
afinal.
Contra-senso.
A única vontade é
des-regrar é manter
tudo desordenado
A única imoralidade
É dar sentidos.
E perdi em
seguida meus dois pares de
versos desagregados
Mais radical
então, o destino
dos versos
foi não versar.
eu iria cantar
No espelho: cabelos sujos.
Prendo os cabelos e fico
sem cantar.
Arrumei dois pares
de frases, repeti-os
e pensei - é isso
afinal.
Contra-senso.
A única vontade é
des-regrar é manter
tudo desordenado
A única imoralidade
É dar sentidos.
E perdi em
seguida meus dois pares de
versos desagregados
Mais radical
então, o destino
dos versos
foi não versar.
sábado, 16 de outubro de 2010
Apoio a Semana contra anistia aos torturadores
"how many times can a man turn his head
Pretending he just doesn't see?" (Bob Dylan)
Exposição Pablo Guayasamin - 19 de março a 25 de julho de 2010 - Museu Oscar Niemeyer (MON)- Museu do Olho - Curitiba
"Semana contra a anistia aos torturadores
No primeiro semestre de 2010 ocorreu o julgamento do Supremo Tribunal Federal da arguição de defesa de preceito fundamental (ADPF 153) que questiona a validade da anistia aos torturadores. A votação do STF contra essa ação ratifica e destaca o Brasil como o único país latino americano que ainda não foi capaz de punir os atos atrozes cometidos durante o período da ditadura militar. Nesse mesmo semestre ocorreram as audiência na Corte Interamericana de Direitos Humanos sobre a Guerrilha do Araguaia - cuja sentença com relação ao caso se aproxima. Esses episódios deixaram para trás milhares de pessoas desaparecidas, mortas e torturadas e imenso sofrimento psíquico e instabilidade institucional e política no país desde então. Com o intuito de recolocar o assunto em pauta, organizaremos a "Semana contra a anistia aos torturadores", que acontecerá entre os dias 4 e 7 de outubro de 2010 e contará com a participação de destacados militantes, pesquisadores e intelectuiais diretamente envolvidos com o assunto, além da exibição de filmes seguidos de debates sobre a temática. Coordenação dos Profs. Drs. Paulo Cesar Endo (PSA) e Luis Guilherme Galeão da Silva (PST)."
(http://www.ip.usp.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=1893:semana-contra-a-anistia-aos-torturadores&catid=45:eventos&Itemid=83)
quarta-feira, 13 de outubro de 2010
sexta-feira, 8 de outubro de 2010
Frêmito. [do lat. fremitu.] S.m. 1. Rumor surdo e áspero: "os uivos dos lobos, os pios dos mochos pelas noites, o frêmito dos ventos pelos píncaros do pomar" (Antônio Feliciano de Castilhos, Amor e Melancolia, p.338) 2. Sussurro, rumor: Ouviu-se um frêmito nas arquibancadas. 3. Tremor, estremecimento, vibração. 4. Rumor produzido por esse estremecimento: o frêmito das asas. 5. Movimento agitado; ondulação, balanço: o frêmito das espigas. 6.Fig. Sensação espasmódica; comoção, com tremor de nervos: "Passe em redor de mim um frêmito de gozo/E um calor de desejo" (Vicente de Carvalho, Poemas e Canções, p.224. 7. Fig. Estremecimento de alegria, de prazer: "Um frêmito de alegria passou na luz do Paraíso, que um Santo novo enriquecia." (Eça de Queiros, Contos, p.155)
(Novo Dicionário Aurélio, Nova Fronteira, 1975, p.655)
(Novo Dicionário Aurélio, Nova Fronteira, 1975, p.655)
sexta-feira, 1 de outubro de 2010
Pise de leve na beira desta letra: cuidado ao entrar: palavras forjadas para um entretenimento breve.
Estou escrevendo para você, meu amor, que esteve aqui comigo nesta cama. Li a pouco a frase de um livro e pensei em você. Nas coisas engraçadas que você diz, com sono. A primavera chegou com chuva e um pouco de frio. Exatamente a mesma primavera de um ano atrás. Molhada, com folhas e desejos caídos, e as impossibilidades todas. Foram. Estamos agora tão perto. Estendo minhas mãos e aliso os teus cabelos. Você sempre soube que era o amor o dono de todas as palpitações? O tremor das mãos me escrevendo, ou quando seu rosto afogueou-se naquele restaurante. Você havia me mandado um poema cheio de belas palavras na véspera... Ando lendo tanto, escrevendo menos do que eu gostaria e me recuperando de um último golpe de intensidade.
Imagino que você saiba. Não imagino nada. Sei apenas de mim. Das palavras que invento para me tornar um pouco mais leve. Inventar mentiras, sentimentos. Forjar amantes e mesmo uma primavera fria.
Fico te olhando dormir. E ainda penso que você é um completo estranho para mim. Não sei nada de você. Não. Até conheço um pouco, confesso. Textura, sardas, um jeito de falar, um jeito de beijar. Pequenos sons que você emite. Conheço algumas palavras que você gosta de usar, alguns livros que você gosta de ler. Temos dois gatos que passam atirados no sofá, você implica com eles. E a cada dia vai descobrindo suas próprias qualidades felinas. Quase ronrona e passa roçando meu corpo quando é domingo de manhã e passamos o dia atirados dentro do apartamento.
Voltou a chover. Puxo a coberta sobre teus ombros. Amanhã de manhã eu mesma vou fazer as malas.
Pegamos um barco e passamos o dia fingindo que estamos num cruzeiro. O mar é azul escuro, há qualquer coisa de grave quando não dá mais pé. Pode acontecer de alguém cair e se afogar. De tardezinha paramos numa pequena praia. Gosto da areia, cato conchas, faço alongamentos, deito nela, na areia e você me faz rir de tudo. Depois fica noite. Eu reconheço sempre as mesmas estrelas. As nuvens de Magalhães, a constelação de Touro, perto das Plêiades, lá pelas 4h da manhã é a constelação de escorpião, e sua espiral na cauda. Você beija minha mão, minha nuca. Sussurra palavras impossíveis e me obriga a ser estrela, mar, chuva, tempestade. Dormimos abraçados, nus. Você e eu. Moramos lado a lado. Apenas um oceano de distância. As tartarugas marinhas são enormes, estão nadando no mar.
Imagino que você saiba. Não imagino nada. Sei apenas de mim. Das palavras que invento para me tornar um pouco mais leve. Inventar mentiras, sentimentos. Forjar amantes e mesmo uma primavera fria.
Fico te olhando dormir. E ainda penso que você é um completo estranho para mim. Não sei nada de você. Não. Até conheço um pouco, confesso. Textura, sardas, um jeito de falar, um jeito de beijar. Pequenos sons que você emite. Conheço algumas palavras que você gosta de usar, alguns livros que você gosta de ler. Temos dois gatos que passam atirados no sofá, você implica com eles. E a cada dia vai descobrindo suas próprias qualidades felinas. Quase ronrona e passa roçando meu corpo quando é domingo de manhã e passamos o dia atirados dentro do apartamento.
Voltou a chover. Puxo a coberta sobre teus ombros. Amanhã de manhã eu mesma vou fazer as malas.
Pegamos um barco e passamos o dia fingindo que estamos num cruzeiro. O mar é azul escuro, há qualquer coisa de grave quando não dá mais pé. Pode acontecer de alguém cair e se afogar. De tardezinha paramos numa pequena praia. Gosto da areia, cato conchas, faço alongamentos, deito nela, na areia e você me faz rir de tudo. Depois fica noite. Eu reconheço sempre as mesmas estrelas. As nuvens de Magalhães, a constelação de Touro, perto das Plêiades, lá pelas 4h da manhã é a constelação de escorpião, e sua espiral na cauda. Você beija minha mão, minha nuca. Sussurra palavras impossíveis e me obriga a ser estrela, mar, chuva, tempestade. Dormimos abraçados, nus. Você e eu. Moramos lado a lado. Apenas um oceano de distância. As tartarugas marinhas são enormes, estão nadando no mar.
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