Entre hoje e sexta-feira, acontece o seminário “Memória, verdade e justiça: as marcas das ditaduras do Cone Sul”. A abertura será realizada às 18h30min, com um pocket show sobre as músicas censuradas pela ditadura militar, no Teatro de Arena (Av. Borges de Medeiros, 835 – Centro). Às 19h, ocorre uma mesa redonda intitulada “Ditaduras de segurança nacional: o sequestro de crianças”, com Camilo Celiberti e Edson Teles e mediação de Ananda Fernandes, no Memorial do RS (Rua Sete de Setembro, 1020 – Centro). No dia 31, quinta-feira, após apresentação musical com Raul Ellwanger, será realizada outra mesa redonda, sobre “Memórias da resistência no RS”, às 19h. O debate tem participação de Raul Pont, Sereno Chaise e Antenor Ferraro e mediação de César Augusto Guazzelli e Jefferson Fernandes e ocorre no Plenarinho da Assembleia Legislativa (Praça Mal. Deodoro, 101 – Centro). Encerrando a programação, na sexta-feira, acontece uma intervenção teatral com a Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz, às 18h, e, às 19h, o debate sobre “Memória, verdade e justiça: os direitos humanos e os deveres do Estado”. Com as presenças de Maria do Rosário, Suzana Lisbôa, Estela de Carlotto e Luis Puig, a mesa tem mediação de Enrique Padrós e inicia às 19h no Salão de Atos II da UFRGS (Av. Paulo Gama, 110 – Centro). O evento tem entrada franca e não é necessário fazer inscrição antecipada.
Retirado de: http://www.ufrgs.br/ufrgs/
quarta-feira, 30 de março de 2011
terça-feira, 22 de março de 2011
Afagos de Caio
Andando pela casa, sentindo os dias, o doméstico acumulado impossível.
Pensando nas palavras escritas, das saudades, do sentimento mundo de ser, de estar.
Dos que agora separados, de outros que não, ou os que tentam e fracassam. Da dificuldade de estar à espera, mesmo que sem objeto.
Um tanto de invenção, ligeira, um charme forçado e incapaz de descansar nas palavras.
Mas do que realmente me trouxe às teclas foi a saudade de uma crônica de Caio Fernando Abreu. Que catei no google, para não reescrever palavra por palavra. Crônica publicada no jornal O Estado de S. Paulo, no dia 08/07/1986. Que se encontra no livro Pequenas Epifanias, e que concentra, para mim, claro, o que Caio tinha de melhor,e que nome dar, para isso? Um amor pelo vivo, por aquilo que pulsa, que cintila, que obscurece, que marca. Pensando melhor, devo muito a Caio, principalmente por ele ter me apresentado à Hilda, mas esta já é outra história. Então, para fazer uma espécie de homenagem ao Caio e aos perecíveis de Neruda, e todos aqueles que, ainda [ ]:
EXTREMOS DA PAIXÃO
"Não, meu bem, não adianta bancar o distante
lá vem o amor nos dilacerar de novo..."
Andei pensando coisas. O que é raro, dirão os irônicos. Ou "o que foi?" - perguntariam os complacentes. Para estes últimos, quem sabe, escrevo. E repito: andei pensando coisas sobre amor, essa palavra sagrada. O que mais me deteve, do que pensei, era assim: a perda do amor é igual à perda da morte. Só que dói mais. Quando morre alguém que você ama, você se dói inteiro(a)- mas a morte é inevitável, portanto normal. Quando você perde alguém que você ama, e esse amor - essa pessoa - continua vivo(a), há então uma morte anormal. O NUNCA MAIS de não ter quem se ama torna-se tão irremediável quanto não ter NUNCA MAIS quem morreu. E dói mais fundo- porque se poderia ter, já que está vivo(a). Mas não se tem, nem se terá, quando o fim do amor é: NEVER.
Pensando nisso, pensei um pouco depois em Boy George: meu-amor-me-abandonou-e-sem-ele-eu-nao-vivo-então-quero-morrer-drogado. Lembrei de John Hincley Jr., apaixonado por Jodie Foster, e que escreveu a ela, em 1981: "Se você não me amar, eu matarei o presidente". E deu um tiro em Ronald Regan. A frase de Hincley é a mais significativa frase de amor do século XX. A atitude de Boy George - se não houver algo de publicitário nisso - é a mais linda atitude de amor do século XX. Penso em Werther, de Goethe. E acho lindo.
No século XX não se ama. Ninguém quer ninguém. Amar é out, é babaca, é careta. Embora persistam essas estranhas fronteiras entre paixão e loucura, entre paixão e suicídio. Não compreendo como querer o outro possa tornar-se mais forte do que querer a si próprio. Não compreendo como querer o outro possa pintar como saída de nossa solidão fatal. Mentira:compreendo sim. Mesmo consciente de que nasci sozinho do útero de minha mãe,berrando de pavor para o mundo insano,e que embarcarei sozinho num caixão rumo a sei lá o quê, além do pó.O que ou quem cruzo entre esses dois portos gelados da solidão é mera viagem: véu de maya,ilusão,passatempo.E exigimos o terno do perecível,loucos.
Depois, pensei também em Adèle Hugo, filha de Victor Hugo. A Adèle H. de François Truffaut, vivida por Isabelle Adjani. Adèle apaixonou-se por um homem. Ele não a queria. Ela o seguiu aos Estados Unidos, ao Caribe, escrevendo cartas jamais respondidas, rastejando por amor. Enlouqueceu mendigando a atenção dele. Certo dia, em Barbados, esbarraram na rua. Ele a olhou. Ela, louca de amor por ele, não o reconheceu. Ele havia deixado de ser ele: transformara-se em símbolosem face nem corpo da paixão e da loucura dela. Não era mais ele: ela amava alguém que não existia mais, objetivamente. Existia somente dentro dela. Adèle morreu no hospício, escrevendo cartas (a ele: "É para você, para você que eu escrevo" - dizia Ana C.) numa língua que, até hoje, ninguém conseguiu decifrar.
Andei pensando em Adèle H., em Boy George e em John Hincley Jr. Andei pensando nesses extremos da paixão, quando te amo tanto e tão além do meu ego que - se você não me ama: eu enlouqueço, eu me suicido com heroína ou eu mato o presidente. Me veio um fundo desprezo pela minha/nossa dor mediana, pela minha/nossa rejeição amorosa desempenhando papéis tipo sou-forte-seguro-essa-sou-mais-eu. Que imensa miséria o grande amor - depois do não, depois do fim - reduzir-se a duas ou três frases frias ou sarcásticas. Num bar qualquer, numa esquina da vida.
Ai que dor: que dor sentida e portuguesa de Fernando Pessoa - muito mais sábio -, que nunca caiu nessas ciladas. Pois como já dizia Drummond, "o amor car(o,a,) colega esse não consola nunca de núncaras". E apesar de tudo eu penso sim, eu digo sim, eu quero Sins.
(in Pequenas Epifanias)
Pensando nas palavras escritas, das saudades, do sentimento mundo de ser, de estar.
Dos que agora separados, de outros que não, ou os que tentam e fracassam. Da dificuldade de estar à espera, mesmo que sem objeto.
Um tanto de invenção, ligeira, um charme forçado e incapaz de descansar nas palavras.
Mas do que realmente me trouxe às teclas foi a saudade de uma crônica de Caio Fernando Abreu. Que catei no google, para não reescrever palavra por palavra. Crônica publicada no jornal O Estado de S. Paulo, no dia 08/07/1986. Que se encontra no livro Pequenas Epifanias, e que concentra, para mim, claro, o que Caio tinha de melhor,e que nome dar, para isso? Um amor pelo vivo, por aquilo que pulsa, que cintila, que obscurece, que marca. Pensando melhor, devo muito a Caio, principalmente por ele ter me apresentado à Hilda, mas esta já é outra história. Então, para fazer uma espécie de homenagem ao Caio e aos perecíveis de Neruda, e todos aqueles que, ainda [ ]:
EXTREMOS DA PAIXÃO
"Não, meu bem, não adianta bancar o distante
lá vem o amor nos dilacerar de novo..."
Andei pensando coisas. O que é raro, dirão os irônicos. Ou "o que foi?" - perguntariam os complacentes. Para estes últimos, quem sabe, escrevo. E repito: andei pensando coisas sobre amor, essa palavra sagrada. O que mais me deteve, do que pensei, era assim: a perda do amor é igual à perda da morte. Só que dói mais. Quando morre alguém que você ama, você se dói inteiro(a)- mas a morte é inevitável, portanto normal. Quando você perde alguém que você ama, e esse amor - essa pessoa - continua vivo(a), há então uma morte anormal. O NUNCA MAIS de não ter quem se ama torna-se tão irremediável quanto não ter NUNCA MAIS quem morreu. E dói mais fundo- porque se poderia ter, já que está vivo(a). Mas não se tem, nem se terá, quando o fim do amor é: NEVER.
Pensando nisso, pensei um pouco depois em Boy George: meu-amor-me-abandonou-e-sem-ele-eu-nao-vivo-então-quero-morrer-drogado. Lembrei de John Hincley Jr., apaixonado por Jodie Foster, e que escreveu a ela, em 1981: "Se você não me amar, eu matarei o presidente". E deu um tiro em Ronald Regan. A frase de Hincley é a mais significativa frase de amor do século XX. A atitude de Boy George - se não houver algo de publicitário nisso - é a mais linda atitude de amor do século XX. Penso em Werther, de Goethe. E acho lindo.
No século XX não se ama. Ninguém quer ninguém. Amar é out, é babaca, é careta. Embora persistam essas estranhas fronteiras entre paixão e loucura, entre paixão e suicídio. Não compreendo como querer o outro possa tornar-se mais forte do que querer a si próprio. Não compreendo como querer o outro possa pintar como saída de nossa solidão fatal. Mentira:compreendo sim. Mesmo consciente de que nasci sozinho do útero de minha mãe,berrando de pavor para o mundo insano,e que embarcarei sozinho num caixão rumo a sei lá o quê, além do pó.O que ou quem cruzo entre esses dois portos gelados da solidão é mera viagem: véu de maya,ilusão,passatempo.E exigimos o terno do perecível,loucos.
Depois, pensei também em Adèle Hugo, filha de Victor Hugo. A Adèle H. de François Truffaut, vivida por Isabelle Adjani. Adèle apaixonou-se por um homem. Ele não a queria. Ela o seguiu aos Estados Unidos, ao Caribe, escrevendo cartas jamais respondidas, rastejando por amor. Enlouqueceu mendigando a atenção dele. Certo dia, em Barbados, esbarraram na rua. Ele a olhou. Ela, louca de amor por ele, não o reconheceu. Ele havia deixado de ser ele: transformara-se em símbolosem face nem corpo da paixão e da loucura dela. Não era mais ele: ela amava alguém que não existia mais, objetivamente. Existia somente dentro dela. Adèle morreu no hospício, escrevendo cartas (a ele: "É para você, para você que eu escrevo" - dizia Ana C.) numa língua que, até hoje, ninguém conseguiu decifrar.
Andei pensando em Adèle H., em Boy George e em John Hincley Jr. Andei pensando nesses extremos da paixão, quando te amo tanto e tão além do meu ego que - se você não me ama: eu enlouqueço, eu me suicido com heroína ou eu mato o presidente. Me veio um fundo desprezo pela minha/nossa dor mediana, pela minha/nossa rejeição amorosa desempenhando papéis tipo sou-forte-seguro-essa-sou-mais-eu. Que imensa miséria o grande amor - depois do não, depois do fim - reduzir-se a duas ou três frases frias ou sarcásticas. Num bar qualquer, numa esquina da vida.
Ai que dor: que dor sentida e portuguesa de Fernando Pessoa - muito mais sábio -, que nunca caiu nessas ciladas. Pois como já dizia Drummond, "o amor car(o,a,) colega esse não consola nunca de núncaras". E apesar de tudo eu penso sim, eu digo sim, eu quero Sins.
(in Pequenas Epifanias)
domingo, 13 de março de 2011
Achados e Perdidos I
À procura de uma coisa, encontrei outra, um escrito me parece de 2009 e duas citações:
O amor vai se acabar esta tarde. E ela nem imagina que isso poderia acontecer. O amor vai se acabar esta tarde.
O amor vai acabar na praia de nome estapafúrdio e ninguém saberá jamais.
O amor vai se acabar esta tarde.
Com areia molhada e mais nenhuma promessa para Iemanja.
O amor vai se acabar nesta tarde, um anúncio do outono sobre sua própria
palavra.
O amor vai se acabar nesta tarde macia
pisando no acolchoado de folhas.
Já não é tarde e já não é cedo. O amor se acabou numa tarde.
"Tinha de permanecer ao lado de fora tal como o porteiro que deve deixar passar os eleitos. Portanto, sua relação com as letras era cheia de renúncia" (p.105)
"E a escrita se assemelha ao seu autor em que é um esconderijo incomparável de imagens. Um refúgio da história universal. Pois no autor moram, se alojam imagens, sabedorias, palavras, que sem ele - quem poderia dizer depois de tudo e de que modo se teriam firmado em nossos dias?" (p.205)
(Walter Benjamin, Rua de Mão Única. Obras escolhidas, V.2, Brasiliense, 1995)
O amor vai se acabar esta tarde. E ela nem imagina que isso poderia acontecer. O amor vai se acabar esta tarde.
O amor vai acabar na praia de nome estapafúrdio e ninguém saberá jamais.
O amor vai se acabar esta tarde.
Com areia molhada e mais nenhuma promessa para Iemanja.
O amor vai se acabar nesta tarde, um anúncio do outono sobre sua própria
palavra.
O amor vai se acabar nesta tarde macia
pisando no acolchoado de folhas.
Já não é tarde e já não é cedo. O amor se acabou numa tarde.
"Tinha de permanecer ao lado de fora tal como o porteiro que deve deixar passar os eleitos. Portanto, sua relação com as letras era cheia de renúncia" (p.105)
"E a escrita se assemelha ao seu autor em que é um esconderijo incomparável de imagens. Um refúgio da história universal. Pois no autor moram, se alojam imagens, sabedorias, palavras, que sem ele - quem poderia dizer depois de tudo e de que modo se teriam firmado em nossos dias?" (p.205)
(Walter Benjamin, Rua de Mão Única. Obras escolhidas, V.2, Brasiliense, 1995)
sábado, 5 de março de 2011
Poema inacabado
Como bocas aéreas que se tocaram como lanças feridas de vento,
Como o pulso que me bate a cada breve ido já e novo.
Danço sobre tuas asas, na corda tocada, uma nota que ninguém ouviu, nem eu, cantando.
Deito os ouvidos na palavra esculpida, soa revoar acolchoar, cerzir camadas, vejo sobre, vejo, o denso, toco véus de onde não. Visto véus onde não.
Como o pulso que me bate a cada breve ido já e novo.
Danço sobre tuas asas, na corda tocada, uma nota que ninguém ouviu, nem eu, cantando.
Deito os ouvidos na palavra esculpida, soa revoar acolchoar, cerzir camadas, vejo sobre, vejo, o denso, toco véus de onde não. Visto véus onde não.
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