domingo, 29 de agosto de 2010

Fragmento da Segunda Elegia, de Rainer Maria Rilke, de Elegias de Duíno

"Se soubessem, os Amantes diriam
estranhas coisas no ar noturno. No entanto, parece
que tudo nos oculta. Olhai, as árvores são; as casas
que habitamos resistem. Somente nós passamos,
permuta aérea, em face de tudo. E tudo conspira
para que silenciemos: o pudor, ou
quem sabe a indizível esperança.

Amantes, que vos bastais, qual nosso segredo?
Há contato entre vós. Teríeis provas?
Às vezes minhas mãos se reconhecem ou
meu rosto gasto nelas tenta se abrigar.
Isso me dá uma certa consciência de mim mesmo.
Quem, no entanto, por tão pouco ousaria ser?
Mas vós, acrescidos no êxtase um do outro
- até que exausto, um suplique: basta! - vós,
cujas mãos descobrem a riqueza dos anos de vinho
e que vos dissolveis para que o outro domine,
pergunto-vos: qual nosso segredo? Eu sei,
bem-aventurado é vosso contato, pois
as carícias sutilmente protegem, retém
a duração pura; e o amplexo, não vos promete quase
a eternidade? Quando resistis ao sobressalto
dos primeiros olhares, à ansiosa espera
à janela, ou quando ultrapassais
o primeiro passeio, juntos,
num jardim: amantes, sois vós ainda?
Quando um no outro pousais os vossos
lábios, como taças, oh, como se evade
então, estranhamente, o embriagado.

Admirastes nas estelas gregas a prudência
do gesto humano? O amor e o adeus sobre as espáduas
pousavam de leve, como se de outra matéria fossem
feitos, que nós desconhecemos. Lembrai-vos das mãos que,
sem peso se apoiavam, apesar dos corpos vigorosos. Senhores
de si mesmos, eles sabiam: aqui estamos,
em nosso palpável domínio; mais poderosamente
os deuses podem nos premir. Isso é assunto
dos deuses. - Ah, encontrássemos também nós
uma estreita faixa de terra fértil, puramente
humana, entre a torrente e a rocha!
Pois nosso coração nos ultrapassa ainda como outrora
e é impossível saciá-lo em figuras apaziguantes,
ou em corpos divinos que, imensos, o moderam."

(Rainer Maria Rilke, Elegias de Duíno, fragmentos da Segunda Elegia)

sábado, 28 de agosto de 2010

Por ora, da felicidade:
dois pontos distintos, delicadamente
unidos por um fio vermelho.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Violent

Apalpar escuro dobradiças
Mover – pontos? – subterfuros:
imperceptíveis sacudidelas de sombras
Caminhos Onde bifurcar, trifurcar, se
Andar não era nada. Era só,
escorregar um pouco pela beirada da boca.
Pressionar o corpo inteiro Vida esparramada nas horas.
Em tudo que eu,
um copo cheio
minerais sais e o coração.

sábado, 14 de agosto de 2010

Não aprendi.
Escolhi o gosto, o sentido
Mas tudo me escapa.
Tenho apenas mãos vazias.

Se eu puder. Um instante
mais
De nada.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Você desloca tempo espaço
palavras vazias e palavras cheias

Como era o mar aquela tarde?

Se o mar naufragar agora
grafia de mar e palavras
sobre esta tarde?

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Anotações, fragmentos, apropriações

"vidas intermitentes
restos ou quase de coisas"

suddenly

Ausência
três segundos de chegada e três segundos de partida

opacidade

Farelos

Nossos corpos
fen dem
em a
bis mo


"Não havia nenhuma necessidade"

desfiar o fio inaudito da desfeita
Até desmanchar

Granulação

não estarei estive
turvada sobre como orvalho

"As veces, ella abre las cajas y las pone boca abajo sobre la mesa, para que las palabras se mezclen como quieren"

porisso deslembro

InconsRuir